segunda-feira, 29 de janeiro de 2007

Benedito Bastião King


Depois de 60 anos de carreira e shows em mais de 90 países, o rei do blues B. B. King fez sua última apresentação em São Paulo. Melhor: ganhei dois ingressos do Metrópolis da TV Cultura para ver a Farewell World Tour. Foi fácil: respondi o significado de B.B. Depois liguei para o Marquinhos Ramos e tudo combinado.

No dia do evento o deus da guitarra parecia brigado com São Pedro. Chuva sem fim. Para chegar ao local do show foi loucura de fã para enfrentar tempestade em final de tarde na capital. O taxista, já em avançadíssimo estado etílico, cantava com Os Mutantes no rádio: “Dizem que sou louco... mas louco é quem me diz e não é feliz, eu sou feliz” Ave! Água, buzinas, alagamentos, trânsito caótico e nós lá, parados em meio a um oceano de carros. E o Lulu Santos no rádio: “Assim caminha a humanidade, com passos de formiga e sem vontade”. Duas horas depois fomos encaminhados até a mesa 22, pertinho do astro.
A banda começou arrasando. Músicos que acompanham a realeza há anos. Cada um deu seu show particular. Espetáculo, até que, finalmente, surge aquele que foi referência para Jimi Hendrix, Eric Clapton, Johnny Winter, Albert King e que possui 14 Grammys, prêmios pela Guitar Player, Downbeat, MTV Vídeo Music e Hall of Fame: B. B. King!

Aos 81 anos, acompanhado de sua Gibson “Lucille”, a majestade fez suas performances sentado. Brincou, dançou, riu, contou piada, tomou cerveja e até pediu para que os casais se beijassem ao seu comando. Legal ouvir os beijos estralando. Em “When love comes to town” nem senti falta de Bono Vox. Depois vieram “The thrill is gone”, “Ain’t that just like a woman”, “When the saints go marchin’ in” etc.
A razão do soberano do blues chamar suas guitarras de Lucille vem do inverno de 1949, em uma apresentação em Twist, Arkansas. À época, era comum acender um barril de querosene no centro do salão para espantar o frio. O diabo é que naquela noite, durante uma briga, as chamas se espalharam pela casa e tudo foi queimado resultando em duas mortes. King descobriu depois que o motivo da briga era uma mulher chamada Lucille. Desde então o nome persiste para lembrar de que a tragédia não pode se repetir.

O monarca também cantou e solou “You are my sunshine, my only sunshine. You make me happy when skies are grey. You’ll never know, dear, how much I love you. Please don’t take my sunshine away”, de Jimmie Davis e Charles Mitchell (1940), uma das canções oficiais do estado da Louisiana. Então ouvi: “O cara entende tudo de guitarra, hein?” Quase respondi: “Não, ele entende tudo de física quântica, aquecimento global, enriquecimento de urânio e submarino nuclear.” kkk!

Riley B. King está pendurando a coroa, mas quem foi rei nunca perde a majestade. Sentado no trono eterno da história do blues com seu manto de simpatia, seu cetro de felicidade e sua coroa de talento, nos deixa apenas uma ordenança: Não importa qual seja a sua missão neste planeta. O que importa é concluí-la com amor, perseverança e dedicação. Ao final, apontando para cima, agradeceu ao Rei dos reis por tudo...

Ah, o significado de B.B.? Benedito Bastião... Brincadeira. É Blues Boy! Mas não se esqueça de que no final tem o King!

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