quarta-feira, 23 de junho de 2010

APESAR DA COPA DO MUNDO...



Um terço passa fome "às vezes" ou "normalmente", diz IBGE

Armando Pereira Filho
Editor do UOL Economia

Mais de um terço dos brasileiros declara que não come o suficiente “às vezes” ou “normalmente”. No total, 35,5% das pessoas se classificam nessa situação de fome.

A situação mais grave (os que “normalmente” não comem o suficiente) afeta 9,2% dos brasileiros. Os que “às vezes” passam fome somam 26,3%. Os que “sempre” comem o suficiente são 64,5%.

Os dados são da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2008/2009, divulgada nesta quarta-feira pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Entre a última pesquisa, de 2002/2003 e a apresentada agora, houve redução entre os que disseram ter fome "às vezes" ou "normalmente". Em 2002/03, eram 46,7% da população, caindo agora para 35,5%.

Mas ainda assim há muita gente nessa situação. No Norte e Nordeste do país, o drama é pior: cerca de 50% das famílias se referiram a insuficiência na quantidade de alimentos consumidos.

Na região Sudeste a proporção das famílias que apontaram quantidades insuficientes foi pouco acima de 29%. Na Região Sul, esse percentual se aproxima de 23%, e, no Centro-Oeste, é de 32%.

Segundo o IBGE, 64,5% das famílias declararam ter alimentos suficientes para chegar ao fim do mês, contra 53% na pesquisa feita em 2002/03.

Entre moradores de Estados brasileiros que manifestaram expressiva satisfação na quantidade de alimentos consumidos, destacam-se os de Rio Grande do Sul e Santa Catarina onde as proporções da resposta quantidade “sempre” suficiente foram 80,7% e 78,1%,
respectivamente.

Na região Sudeste, os maiores percentuais de suficiência plena de quantidades foram apontados em São Paulo e Minas Gerais (ambos perto de 72%).

A POF 2008-2009 também investigou qual a opinião das famílias quanto ao tipo de alimento consumido. Para o total do Brasil, 51,8% das famílias afirmaram que os alimentos consumidos nem sempre eram do tipo preferido.

Considerando-se também as famílias que declararam raramente consumir os alimentos preferidos, observa-se que 65% das famílias no Brasil declararam algum grau de insatisfação com o tipo de alimento que consomem.

terça-feira, 8 de junho de 2010

PT, SEMPRE PT...


Delegado reafirma que jornalista pediu investigação sobre José Serra
RUBENS VALENTE
DE BRASÍLIA
O delegado aposentado da Polícia Federal Onézimo das Graças Sousa reafirmou à Folha que o jornalista Luiz Lanzetta --encarregado, até a semana passada, da área de imprensa da pré-campanha de Dilma Rousseff (PT)-- lhe pediu que fizesse investigações sobre o ex-governador José Serra (PSDB-SP).
De Minas Gerais, por telefone, Sousa afirmou que não aceitou realizar as apurações sobre Serra nem fechou o contrato.
Tanto Lanzetta quanto o jornalista Amaury Ribeiro Jr., presentes à reunião, negaram que tal pedido tenha sido feito. Lanzetta deixou a campanha no último sábado, após a revista "Veja" divulgar as declarações de Sousa. Indagado se gravou o encontro, Sousa não negou nem confirmou.
Na entrevista, Sousa disse que se viu alvo de um vazamento de "dentro da casa do PT" e que o assunto, ao ser apurado pela revista "Veja", "foi parar no meu colo".
"Eu me senti na obrigação de esclarecer os fatos."
A seguir, trechos da entrevista.
FOLHA - Gostaria de ouvi-lo sobre a entrevista concedida à revista "Veja"...
Onézimo das Graças Sousa - Foi você que fez uma entrevista com uma pessoa lá da casa? Você viu o que ele falou? Você imagina uma estrutura dessas, uma candidata [importante], talvez a futura presidente do nosso país, monta um escritório onde ocorrem roubos lá dentro. Não pega mal? Quer dizer, eu fui chamado, como policial, para apurar um roubo. E o jornalista [Ribeiro] confirma isso --por sinal foi contratado para fazer isso e não teve competência para fazer. Tanto é, se você olhar na entrevista, são dois tipos de coisas distintas: a primeira eu faço, para seu jornal, sua casa, se você for contratar uma empregada, eu faço: 'Olha, doutor, veja se essa pessoa tem antecedentes'. Isso é uma coisa normal, você faz sem violação a qualquer princípio. Agora, o segundo tópico, que se falou que era para fazer, é que eu não concordei. Aí roubam o meu cartão, dão para a revista e, de repente, põem tudo no meu colo.
Essa segunda parte incluía investigações sobre o ex-governador Serra?
Você há de convir que foi aí que foi o 'xis' da questão. Se você olhar, eu fiz uma carta para a "Veja", em que eu neguei tudo. Eu falo, puxa, 'eu sou advogado, falar que eu trabalhei com o [deputado federal] Marcelo Itagiba, que eu tinha um escritório no Ministério da Saúde', pura mentira, nunca. Se alguém registrar algum recebimento [meu] do Ministério da Saúde eu dou cem vezes mais o valor para uma instituição de caridade. Eu nunca trabalhei no Ministério da Saúde. Falou-se que eu tinha um gabinete no 11º andar. Poxa, então eu vou lá pegar meu dinheiro, eu quero receber.
O sr. nunca integrou aquele grupo da Anvisa que investigava fraudes em medicamentos?
Nunca, nunca, nunca. O meu contato com Marcelo Itagiba foi quando eu ainda estava na ativa [até ano 1995]. Nunca trabalhei sob comando de Marcelo Itagiba. E aí o cara me põe no Ministério da Saúde. Para você ter uma ideia, eu me aposentei em 1995, já se vão 15 anos. Aí ele vem [a imprensa] e me põe trabalhando com [o delegado da Operação Satiagraha] Protógenes [Queiroz] em 2006? Eu estou aposentado há uns 17 anos. Por isso eu não estou falando. Eu respeito o trabalho de vocês, mas fica uma Torre de Babel.
Eu gostaria de saber se o sr. confirma o que está na revista "Veja", de que em determinado momento da reunião, foi pedido que o sr. investigasse Serra.
Veja a resposta que ele [Amaury] lhe deu: 'eram dois serviços, um era proteger a casa' --eu fui lá chamado para isso, problema de polícia, roubo-- 'o outro era saber quem eram esses varas do Itagiba'. É esse que eu não aceitei. Está claro aqui na sua reportagem. Como eu não aceitaria investigar qualquer grupo, meu papel não é esse.
Mas o pedido da equipe da campanha falava no nome do ex-governador?
Veja só: eu te pergunto... Eu confesso a você, passei 30 anos, eu sou um policial, eu não vou pegar uma revista, um jornal, amanhã, e tentar escrever um artigo no seu lugar. Será um fiasco. Eu sou policial. E o que aconteceu foi um jornalista tentando ser policial. Agora, ele, sabedor que eu [supostamente] trabalhei com o Itagiba, que era do PSDB, por que ele me chamou? Era um atestado de burrice, me desculpe. A não ser que você queira dormir com um inimigo.
O sr. é amigo de Itagiba?
Eu o respeito como um colega, trabalhamos na mesma instituição. E ponto final. Agora, veja, ele disse que eu trabalhei com Itagiba, e me chama, me põe dentro do comitê da candidata, que seria o lado contrário de Itagiba? Ele que me levou lá para dentro, então será que ele aprontou isso por incompetência?
Também disseram que o sr. teria dito que tem conhecimento de que Itagiba estava produzindo dossiês sobre o PMDB. Isso procede?
Negativo. Isso era a segunda parte do serviço, como ele afirmou para você. Eram dois serviços. Um era proteger a casa, isso faço para você, para quem quiser. E o outro era saber quem eram esses caras do Itagiba. Sua reportagem é claríssima. E foi o tópico com o qual eu não concordei. Agora, você acha, segundo falam na imprensa, um contrato de R$ 2 milhões, eu precisando trabalhar, eu iria levar isso para a "Veja"? Olha que papel idiota que eu iria fazer. Estou falando com você porque achei suas perguntas inteligentes, só faltou você explorar mais um pouquinho, 'se você sabia que o homem era do Itagiba, por que foi falar com ele?'
Pelo que entendi, eles alegam que quem apresentou o sr. foi outra pessoa.
Negativo. Eles queriam que eu fosse à casa. E, graças a Deus, eu não sou burro, nunca pisei um pé lá e não sei onde é. Aí eles marcaram no restaurante.
À "Veja" o sr. falou em 'coisas pessoais' do ex-governador [Serra]. Ocorreu essa expressão, 'coisas pessoais do ex-governador'?
Veja bem, a partir do momento em que alguém me procura e fala assim, 'doutor, eu quero saber tudo do jornalista 'xis'', eu tenho bola de cristal, eu sou [a vidente] Mãe Diná? Eu não sou Mãe Diná. Não precisa explicitar, né?
Então o sr. confirma que eles queriam saber tudo de José Serra?
Exatamente. Então, para eu saber tudo de você, você sabe qual seria o método. Eu não trabalho com esse tipo de coisa.
Mas, no pedido específico, eles não falaram 'tudo sobre Itagiba', eles falaram 'tudo sobre Serra'?
Exato. Acho que a entrevista, nesse ponto, bate. Outra coisa: a imprensa põe que eu sou dono de empresa. Eu queria que você ressalvasse bem: eu sou um advogado. E advogado não pode falar o que o cliente lhe confidencia. Agora, roubaram o meu cartão e foi parar no colo [do jornalista de "Veja"] com tudo, né? Preste atenção a esse tópico, porque isso é importante.
E o sr. chegou a ver esse cartão?
Foi quando eu fui falar com o jornalista, o jornalista tinha o cartão na mão. Perguntei: 'Onde o sr. conseguiu isso?'. [Ele respondeu]: 'Dentro da casa do PT'. Então o jornalista tem alguém lá dentro.
O que o motivou a dar essa segunda entrevista. Porque no primeiro contato, na primeira publicação, não há exatamente aquelas palavras. O que o motivou...
Veja só. Você viu a carta que mandei para a "Veja", falando do meu papel de advogado? Ora, a partir do momento em que o cliente repassou à "Veja" --o sr. Amaury repassou à "Veja" também, depois que viu a bomba na mão, ele sentou com o jornalista e conversou-- a partir do momento em que o cliente senta e abre o jogo, não fui eu que abri. Então eu me senti na obrigação, também, de esclarecer os fatos. Você viu que são dois momentos. O primeiro momento, o advogado não fala. Agora, se você vem em busca do meu serviço, depois vai na imprensa e põe manchete, 'não, eu procurei o advogado tal' e diz isso e isso, não fui que quebrei.
O sr. tem uma empresa de investigação?
Sou advogado, não tenho [empresa], nunca trabalhei para o Ministério da Saúde. Uma coisa que sei fazer, graças a Deus, é investigar. Investigar eu sei. Trinta anos fazendo isso. Trabalhando contra narcoterrorismo, que é a minha especialidade. Agora, ele mesmo ressaltou, que lá na casa estavam roubando. Eu fui atrás de um ladrão. [...] Primeira pergunta que se faz, quando alguém rouba a sua casa, é quem entrou na sua casa, quem são seus empregados. Eles sequer tinham uma relação nominal de quem estava lá dentro. Quer dizer, é uma casa da Mãe Joana, me desculpe. Agora, como é que se monta uma estrutura para uma candidata e não se preocupa sequer com quem está entrando na casa. Tanto é que a "Veja" pôs [alguém] lá dentro, sentado na mesa.
Há o boato de que alguém teria gravado a reunião. O sr. gravou esse encontro?
Isso é matéria de defesa minha. Ele [Amaury] disse que vai me processar. Eu vou esperar o processo dele. Você não pode gravar conversas de terceiros, mas sua, você pode.
Isso é pacífico que pode, há jurisprudência no Supremo. Mas o sr. realmente registrou a conversa?
Eu prefiro não declinar. Agora, se ele vai me processar... Mas pelo menos ele não negou a reunião, pois eles me chamaram, queriam que eu fosse à casa e eu não fui.