Camargo deu propina a 200 políticos, diz PF
Relatórios citam deputados, secretários e conselheiros e ministros de Tribunais de Contas como supostos beneficiários
Autoridades que gozam de foro privilegiado têm nome retirado de processo sobre construtora, pois só podem ser julgados por STF ou STJ
MARIO CESAR CARVALHO
LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL
A relação de políticos suspeitos de terem recebido propina da empreiteira Camargo Corrêa já ultrapassa 200 nomes, segundo relatórios da Operação Castelo de Areia da Polícia Federal. Estão na lista deputados federais, secretários municipais e conselheiros e ministros de Tribunais de Contas, segundo a Folha apurou.
Esses nomes estão sendo separados do processo sobre a empreiteira porque os supostos envolvidos gozam de foro privilegiado e não podem ser investigados por procuradores nem julgados pela primeira instância da Justiça.
Quando estiver pronta, a listagem será encaminhada pelo Ministério Público Federal à Procuradoria-Geral da República, em Brasília.
A Procuradoria, por sua vez, deve enviar cópias de toda a documentação ao STF (Supremo Tribunal Federal), ao STJ (Superior Tribunal de Justiça) e aos tribunais regionais federais, instâncias que têm poder de investigar políticos que ocupam cargo eletivo.
O advogado da Camargo Corrêa, Celso Vilardi, diz que não teve acesso aos documentos reunidos pela PF e, por isso, não comentaria o suposto pagamento de propina. Ele classificou de "criminoso" o que chamou de "vazamento de informação" (leia texto abaixo).
A lista do pendrive
Todos os nomes de políticos e funcionários públicos foram encontrados em planilhas que estavam armazenadas em um pendrive ou em pastas apreendidas na sala de Pietro Francesco Giavina Bianchi, diretor da Camargo Corrêa.
Bianchi é um dos diretores da Camargo Corrêa acusados pelo Ministério Público Federal de lavagem de dinheiro com origem em corrupção passiva e ativa e evasão de divisas.
Ontem, a Folha revelou que a acusação atinge Darcio Brunato e Fernando Dias Gomes, além de Bianchi.
Na denúncia (acusação formal) contra os diretores, a procuradora Karen Louise Jeanette Kahn diz que a Camargo Corrêa pagou cerca de R$ 4 milhões em propina para conseguir vencer duas licitações e para mudar a legislação sobre uma área no município de Caieiras, na Grande São Paulo, no qual a construtora fez um empreendimento imobiliário.
As licitações eram para a construção de cinco hospitais no Pará e a produção de 23 embarcações para a frota da Transpetro (Empresa Petrobrás de Transporte) no Estado do Rio de Janeiro. A Transpetro disse em nota que seguiu as recomendações feitas pelo Tribunal de Contas da União.
No caso dos cinco hospitais, construídos em Belém, Santarém, Breves, Redenção e Altamira, Kahn diz que papéis apontam que a suposta propina foi paga ao PT e ao PMDB.
A Folha apurou que o PT aparece nos documentos como beneficiário de R$ 230 mil e o PMDB, de R$ 130 mil.
Os cerca de R$ 4 milhões não foram entregues diretamente aos políticos no Brasil, de acordo com a procuradora.
Na acusação, ela sustenta que o dinheiro era transferido para empresas "offshore" com sede nos Estados Unidos, Suíça, Andorra e Taiwan.
"Offshores" são empresas que têm como uma de suas características a dificuldade de saber quem são os seus verdadeiros controladores. Esse tipo de companhia também é usada em negócios ilícitos por causa dos empecilhos legais que oferece para se saber quem foi o beneficiário final do dinheiro.
O Ministério Público diz que as remessas eram feitas por Kurt Pickel, um suíço radicado no Brasil que já trabalhou para bancos do seu país de origem e é acusado de operar como doleiro do suposto esquema de pagamento de propina.
A procuradora sustenta que a intimidade entre Pickel e a Camargo Corrêa era tamanha que ele tinha a senha bancária para fazer movimentações financeiras em nome dos diretores da construtora.
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc0212200916.htm
Relatórios citam deputados, secretários e conselheiros e ministros de Tribunais de Contas como supostos beneficiários
Autoridades que gozam de foro privilegiado têm nome retirado de processo sobre construtora, pois só podem ser julgados por STF ou STJ
MARIO CESAR CARVALHO
LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL
A relação de políticos suspeitos de terem recebido propina da empreiteira Camargo Corrêa já ultrapassa 200 nomes, segundo relatórios da Operação Castelo de Areia da Polícia Federal. Estão na lista deputados federais, secretários municipais e conselheiros e ministros de Tribunais de Contas, segundo a Folha apurou.
Esses nomes estão sendo separados do processo sobre a empreiteira porque os supostos envolvidos gozam de foro privilegiado e não podem ser investigados por procuradores nem julgados pela primeira instância da Justiça.
Quando estiver pronta, a listagem será encaminhada pelo Ministério Público Federal à Procuradoria-Geral da República, em Brasília.
A Procuradoria, por sua vez, deve enviar cópias de toda a documentação ao STF (Supremo Tribunal Federal), ao STJ (Superior Tribunal de Justiça) e aos tribunais regionais federais, instâncias que têm poder de investigar políticos que ocupam cargo eletivo.
O advogado da Camargo Corrêa, Celso Vilardi, diz que não teve acesso aos documentos reunidos pela PF e, por isso, não comentaria o suposto pagamento de propina. Ele classificou de "criminoso" o que chamou de "vazamento de informação" (leia texto abaixo).
A lista do pendrive
Todos os nomes de políticos e funcionários públicos foram encontrados em planilhas que estavam armazenadas em um pendrive ou em pastas apreendidas na sala de Pietro Francesco Giavina Bianchi, diretor da Camargo Corrêa.
Bianchi é um dos diretores da Camargo Corrêa acusados pelo Ministério Público Federal de lavagem de dinheiro com origem em corrupção passiva e ativa e evasão de divisas.
Ontem, a Folha revelou que a acusação atinge Darcio Brunato e Fernando Dias Gomes, além de Bianchi.
Na denúncia (acusação formal) contra os diretores, a procuradora Karen Louise Jeanette Kahn diz que a Camargo Corrêa pagou cerca de R$ 4 milhões em propina para conseguir vencer duas licitações e para mudar a legislação sobre uma área no município de Caieiras, na Grande São Paulo, no qual a construtora fez um empreendimento imobiliário.
As licitações eram para a construção de cinco hospitais no Pará e a produção de 23 embarcações para a frota da Transpetro (Empresa Petrobrás de Transporte) no Estado do Rio de Janeiro. A Transpetro disse em nota que seguiu as recomendações feitas pelo Tribunal de Contas da União.
No caso dos cinco hospitais, construídos em Belém, Santarém, Breves, Redenção e Altamira, Kahn diz que papéis apontam que a suposta propina foi paga ao PT e ao PMDB.
A Folha apurou que o PT aparece nos documentos como beneficiário de R$ 230 mil e o PMDB, de R$ 130 mil.
Os cerca de R$ 4 milhões não foram entregues diretamente aos políticos no Brasil, de acordo com a procuradora.
Na acusação, ela sustenta que o dinheiro era transferido para empresas "offshore" com sede nos Estados Unidos, Suíça, Andorra e Taiwan.
"Offshores" são empresas que têm como uma de suas características a dificuldade de saber quem são os seus verdadeiros controladores. Esse tipo de companhia também é usada em negócios ilícitos por causa dos empecilhos legais que oferece para se saber quem foi o beneficiário final do dinheiro.
O Ministério Público diz que as remessas eram feitas por Kurt Pickel, um suíço radicado no Brasil que já trabalhou para bancos do seu país de origem e é acusado de operar como doleiro do suposto esquema de pagamento de propina.
A procuradora sustenta que a intimidade entre Pickel e a Camargo Corrêa era tamanha que ele tinha a senha bancária para fazer movimentações financeiras em nome dos diretores da construtora.
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc0212200916.htm
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