terça-feira, 4 de maio de 2010

MAIORES INIMIGOS DA IMPRENSA

ONG inclui Putin, Ahmadinejad e Jintao em lista de 40 "predadores" da imprensa

Do UOL Notícias
Em São Paulo

O que diz o relatório

Vladimir Putin
Assim como almeja o controle do Estado, Putin quer controlar as forças econômicas, geopolíticas e também a mídia. As estações de TV nacionais falam, agora, a uma só voz. Cinco jornalistas foram assassinados em 2009 e 22 desde 2000. Pela primeira vez , o presidente Vladmir Medvedev reconheceu a existência dos assassinatos políticos. Além disso, Putin incentiva a perseguição a dissidentes e permite um nível de impunidade que está minando o Estado de Direito.

Mahmud Ahmadinejad
O governo de Ahmadinejad empreendeu uma ofensiva pesada contra jornalistas e internautas, na qual mais de 100 foram presos e cerca de 50 forçados a fugir para o exterior. Quatorze jornais foram fechados e milhares de páginas da web, bloqueadas. Pela primeira vez desde a revolução de 1979, o governo introduziu um sistema pelo qual o conteúdo de mídia imprensa é sistematicamente verificado pelos serviços de segurança antes da publicação. As organizações internacionais raramente conseguem obter permissão para visitar o Irã.

Hu Jintao
Mesmo que professe publicamente o apoio à liberdade de imprensa, Jintao restringe a atuação de dissidentes e aceitou a prisão de mais de 50 tibetanos que foram detidos após tentarem divulgar fotos, vídeos ou relatos sobre a situação na província. Jintao também ordenou uma repressão implacável aos uigures de Xinjiang em julho de 2009: a internet foi desligada por vários meses, enquanto a imprensa oficial se voltou contra os separatistas. Jornalistas que foram presos em 2008, durante os Jogos Olímpicos, por exigir mais democracia, permanecem detidos em condições desumanas.

A organização não-governamental internacional Repórteres Sem Fronteiras divulgou nesta segunda-feira (3), dia internacional da liberdade de imprensa, seu relatório anual com os “predadores” da prática jornalística. No levantamento, a ONG lista 40 indivíduos ou organizações “poderosos, perigosos, violentos e acima da lei” que tratam a imprensa como um inimigo e promovem ataques diretos a jornalistas.

O relatório não lista nem indivíduos, nem organizações brasileiras como predadores da imprensa. Também não está listado o presidente venezuelano Hugo Chávez, sobre quem pairam acusações de impedir o trabalho da imprensa ao não renovar concessões a redes de televisões e ordenar o fechamento de veículos.

A lista de "predadores" traz alguns dos mais importantes líderes globais, como Mahmud Ahmadinejad, presidente do Irã; Kim Jong-il, líder norte-coreano; Vladimir Putin, primeiro-ministro russo; Hu Jintao, presidente da China; e o príncipe Abdallah, monarca da Arábia Saudita. Entre as entidades, estão as Forças de Defesa de Israel e o grupo separatista basco ETA.
Além da lista, a Repórteres Sem Fronteiras divulgou um ranking mundial da liberdade de imprensa com 175 países. O Brasil melhorou 11 posições do ano passado para este ano e ocupa agora o 71º lugar da lista. Dividem a primeira colocação Dinamarca, Finlândia, Irlanda, Noruega e Suécia. Segundo a ONG, não há ameaças à liberdade de imprensa nesses países.

A última posição do ranking ficou com a Eritreia, seguida da Coreia do Norte, Turcomenistão, Irã, Birmânia, Cuba, Laos e China (veja a lista ao final do texto). Entre os países latino-americanos, o México e Colômbia obtiveram as piores posições (137º e 126º, respectivamente) e o Uruguai a melhor (29º). Os principais critérios adotados na lista foram a violência contra jornalistas e a adoção de medidas, por parte do poder público e/ou entidades particulares, que limitem a liberdade de imprensa.

Israel está entre os países que mais caíram no ranking, saltando da 46ª posição para a 93ª. A ONG credita a queda ao impacto que a ofensiva contra a faixa de Gaza trouxe à imprensa. Durante a ofensiva, as tropas israelenses mataram três jornalistas e feriram cerca de 20. Além disso, aumentou a censura aos meios de comunicação e os casos de detenções ilegais de repórteres, de acordo com a entidade.

Em contrapartida ao caso israelense, o relatório anual destaca a subida no ranking dos Estados Unidos --que pularam do 36º lugar ao 20º-- causada pelo  "efeito Obama", que possui uma "abordagem menos agressiva do que seu antecessor [George W. Bush]", destaca a ONG.

Contudo, a entidade acusa os EUA de não conferirem o mesmo tratamento dado internamente à imprensa nos países em que mantêm tropas militares (Iraque e Afeganistão). Segundo a Repórteres sem Fronteiras, vários jornalistas foram presos e feridos por militares norte-americanos.

Países onde há "predadores" da liberdade de imprensa

  • Fonte: Repórteres Sem Fronteiras
"Predadores"
Muitos dos que foram citados no ranking já estavam na lista da ONG no ano passado.

O que diz o relatório

Kim Jong-il
O regime totalitário liderado por Kim Jong-il desde 1994 empreende, de uma maneira única no mundo, a proibição do uso dos poucos telefones móveis existentes no país e ordena o culto às personalidades da família presidencial. O presidente que proibiu a mídia de discutir a fome que matou milhões de norte-coreanos durante a década de 1990 é capaz de enviar aquele que cometeu um simples erro de ortografia do seu nome para os campos de reeducação ideológica.

Príncipe Abdallah
Não há na Arábia Saudita qualquer lei que proteja a liberdade de expressão. Diante disso, os jornalistas não se atrevem a criticar o regime saudita. O país é um dos mais repressivos do mundo no que se refere à internet. O governo criou uma comissão especial em março de 2007 imbuída de garantir a “ordem social” por meio da filtragem da internet. A prerrogativa empregada é de "proteger a sociedade saudita" do terrorismo, de fraudes, da pornografia e da difamação e da violação "dos valores religiosos". Mais de 400 mil sites estão bloqueados. Longe de tentar esconder o que estão fazendo, as autoridades sauditas defendem publicamente as suas decisões de censura.

Raúl Castro
Apesar de se comportar um pouco melhor que seu irmão Fidel no que diz respeito aos direitos humanos, Raúl Castro permite a perseguição de jornalistas independentes e a prisão dos profissionais de imprensa pela polícia política. Dezenove jornalistas presos em março de 2003 continuam detidos em condições desumanas. Outros cinco foram presos desde que Raúl assumiu, o que faz de Cuba uma das maiores “prisões” do mundo para a os jornalistas, apenas atrás da China e do Irã.

Na América Latina, não há mudanças sensíveis, e as quatro principais fontes promotoras de ameaças e de atos de violência contra jornalistas permanecem as mesmas: os traficantes de drogas mexicanos, a ditadura cubana, as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e grupos paramilitares também colombianos, segundo os critérios do Repórteres sem Fronteiras.

Em comparação com o relatório do ano passado, a África sofreu algumas alterações, mas as mudanças mais substanciais ocorreram em os países da Ásia.

Na Somália, saiu da lista o antigo chefe da inteligência do país Mohamed Warsame Darwish --demitido em dezembro de 2008--, autor de ataques pesados à imprensa e mandante de detenções arbitrárias de jornalistas e execuções a profissionais da imprensa, segundo a ONG.

Na Nigéria, o relatório divulgado hoje incluiu o chefe do Serviço de Segurança Ogbonna Onovo, que, de acordo com a Repórteres Sem Fronteiras, incentiva a polícia a usar a violência contra os jornalistas e impede o acompanhamento de operações.

Já no Iraque, a ONG avalia que a situação do jornalistas está melhorando lentamente e que a violência afeta mais a população em geral, do que os profissionais de imprensa em particular. Por esta razão, a organização retirou grupos islâmicos iraquianos do relatório deste ano.

No entanto, entrou na lista deste ano o presidente iemenita Ali Abdulah Saleh, acusado pela entidade de aumentar a repressão por meio da criação de um tribunal especial para crimes de imprensa e incentivar a perseguição a uma dezena de jornalistas, numa “tentativa de impedir a cobertura da guerra suja travada no norte e no sul do país”.

As Filipinas foram incluídas na lista deste ano como país perigoso aos jornalistas após o massacre de 30 jornalistas na província de Maguindanao, em 23 de novembro de 2009, por milícias particulares.
Para a ONG, houve falta de vontade política do governo local para julgar e punir os responsáveis pelas chacinas.

Também foi incluído à lista o líder taleban Mullah Omar, cuja influência se estende pelo Paquistão e Afeganistão.

O líder, afirma a Repórteres sem Fronteiras, dirigiu sua guerra santa também à imprensa, ao ordenar 40 atentados contra jornalistas e empresas midiáticas.

Ramzan Kadyrov, o presidente da República russa da Chechênia, foi incluído por impor um “regime de terror” na região.

Segundo a ONG, ele estaria envolvido na morte de Anna Politkovskaya, em 2006, e Natalia Estemirova, em 2009, duas jornalistas críticas ao seu governo.

Ranking da liberdade de imprensa

MAIS LIBERDADE MENOS LIBERDADE
1º Dinamarca 175º Eritreia
- Finlândia 174º Coreia do Norte
- Irlanda 173º Turcomenistão
- Noruega 172º Irã
- Suécia 171º Mianmar
6º Estônia 170º Cuba
7º Holanda 169º Laos
- Suíça 168º China
9º Islândia 167º Iêmen
10º Lituânia 166º Vietnã
71º BRASIL
  • Fonte: Repórteres Sem Fronteiras

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