Ana Júlia Carepa (PT), eleita governadora por meio da "força do povo" do Pará, confirmou, sem vergonha, de que a garotinha que ficou presa em uma cela por quase trinta dias com 20 homens(!) em Abaetetuba, não é um caso isolado, muito pelo contrário, é um crime que vem ocorrendo "há algum tempo".
Se vem ocorrendo "há algum tempo", como afirmou a governadora petista, por que não tomou providências? Por que não exerceu seu poder que veio do povo? Por que não exigiu soluções das autoridades competentes? Por quê? Por quê?
Mas Carepa preferiu fazer o jogo do político brasileiro que já conhecemos também há muito tempo: "Essa é uma prática lamentável, que, infelizmente, já acontece há algum tempo. Mas é bom tornar tudo isso público, para que toda a sociedade se mobilize e possamos acabar com essas práticas. O sistema de segurança vai investigar com rigor todas as denúncias", afirmou com autoridade a governadora, em nota publicada no site do governo!
A conversa petista não muda. "...mas é bom tornar isso público..."? Quer dizer que mesmo ocorrendo há algum tempo, foi "bom" a adolescente ter sido estuprada por 20 homens que a obrigavam a manter com eles relações sexuais dentro da cela em troca de comida para que "toda a sociedade se mobilize"? Percebeu que a "sociedade" já entrou na história de mansinho? Percebeu que ela já compartilhou de sua responsabilidade? Hein? Percebeu?
Pensando bem a sociedade tem muito de responsabilidade nisso tudo mesmo. Como? Quando vota numa cidadã dessa para governar um Estado. Há mais de 10 anos o Movimento de Mulheres do Campo e da Cidade (MMCC) denuncia casos como esse no Pará. Em março o absurdo já havia occorido na mesma cidade. A coordenadora do MMCC e ainda integrante do CONSELHO ESTADUAL DA MULHER DO PARÁ, Elisety Maia, denunciou o absurdo: "Fizemos um requerimento colocando a situação ao Conselho Estadual da Mulher e apresentamos como solução a construção de uma delegacia da mulher no município e não houve providências", afirmou Maia.
E agora Ana Júlia Carepa vem dizer que isso foi "bom" para a "sociedade" se "mobilize"? Mais uma perguntinha: Por que ela mesma, ao receber o comunicado, e sabendo que o crime já acontece "há algum tempo" em seu Estado, não tornou, ela mesma, público o vergonhoso caso e pediu a mobilização da sociedade? Ora, tenha dó!
Ô, Ana Júlia! Agora a garota já foi estuprada, humilhada e envergonhada. Aliás, envergonhados estamos todos nós que possuímos, pelo menos dois neurônios não petistas.
"Pede pra sair", governadora...
Governadora admite ser comum mulher em cela de homens
Ana Júlia Carepa, do Pará, diz que casos como o da adolescente presa em cela masculina ocorrem no Estado "há algum tempo"
Em 96, mulher acusada de matar marido ficou 7 meses presa com 35 homens e relatou vários estupros; ela acabou inocentada
SÍLVIA FREIREDA AGÊNCIA FOLHA
A governadora do Pará, Ana Júlia Carepa (PT), admitiu ontem que casos como o da adolescente que ficou presa por quase um mês na mesma cela com 20 homens, na cidade de Abaetetuba, ocorrem no Estado "há algum tempo".
"Essa é uma prática lamentável, que, infelizmente, já acontece há algum tempo. Mas é bom tornar tudo isso público, para que toda a sociedade se mobilize e possamos acabar com essas práticas. O sistema de segurança vai investigar com rigor todas as denúncias", disse a governadora, em nota publicada no site do governo.
Há pelo menos 11 anos o Movimento de Mulheres do Campo e da Cidade (MMCC), entidade de defesa dos direitos da mulher, denuncia casos semelhantes no interior do Estado.
Em março deste ano, segundo Elisety Maia, coordenadora do MMCC e integrante do Conselho Estadual da Mulher do Pará, ocorreu um outro caso de uma mulher presa na carceragem de Abaetetuba.
"Fizemos um requerimento colocando a situação ao Conselho Estadual da Mulher e apresentamos como solução a construção de uma delegacia da mulher no município e não houve providências", disse Maia.
Em 1996, o movimento denunciou o caso da presa Salma Simas, então com 40 anos, que dividiu uma cela com outros 35 homens durante sete meses.
Simas, presa sob acusação de matar o marido, afirmou na época que foi estuprada diversas vezes na cadeia. Uma primeira sindicância aberta para apurar o caso foi arquivada. A justificativa para colocá-la na cela com os presos foi a mesma dada agora: a falta de cela para mulheres na delegacia. Ela foi inocentada do crime depois.
Eliana Fonseca, representante do MMCC no Conselho Estadual da Mulher do Pará, disse que nos últimos dez anos o movimento já denunciou casos semelhantes ao da menina de Abaetetuba ocorridos em Altamira, Tucuruí e até mesmo em Abaetetuba.
"O problema de mulher presa convivendo com homens no Pará não é de agora. Infelizmente teve que acontecer este caso com a adolescente para o problema vir à tona." Segundo ela, a participação de mulheres em crimes cresceu nos últimos anos, mas o Estado não ampliou as prisões femininas.
Ontem, em entrevista coletiva, a governadora se disse "indignada" com a prisão da adolescente e afirmou que o Estado vai averiguar com rigor as responsabilidades. Ela disse que irá investigar todos as denúncias que surgirem.
Menina sairá do Estado
Na madrugada de ontem, chegou a Belém do Pará missão da Subsecretaria de Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente, ligada à Presidência da República, chefiada pela advogada Márcia Ustra Soares, 42. Missão: retirar a menina e seus pais do Pará e colocá-los no serviço nacional de proteção a testemunhas, longe de potenciais agressores.
A menina fez também um teste de gravidez para constatar se está esperando um filho. É possível que ela tenha engravidado na prisão. Ela disse ter sido estuprada pelos presos no período em que esteve detida.
Resultado do exame da arcada dentária atestou que ela tem em torno de 15 anos. O teste foi feito para tirar a dúvida sobre a idade dela. A delegacia em Abaetetuba informou que, ao ser presa, ela disse ter 19 anos.
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