terça-feira, 31 de março de 2009

QUACK!


O pacto silencioso e os patos silenciosos

Não há quem não saiba que a corrupção é um dos piores problemas do Brasil, uma das maiores travas ao nosso desenvolvimento.

Mesmo assim, nenhum grande partido ou candidato presidencial tem como bandeira combatê-la. Incrível! O assunto nem sequer é debatido publicamente pelos políticos. Já viu um grande partido propor leis mais eficazes contra corruptos e corruptores, apesar da necessidade óbvia?

Vivemos sob um grande pacto silencioso para governar os patos silenciosos, nós, que seguimos pagando impostos e votando nesses partidos corruptos nutridos no pecado original da política brasileira: o financiamento ilegal de campanhas.

Nesse último escândalo, temos de novo os sempre presentes e indispensáveis doleiros, ao menos uma grande empreiteira, vários partidos políticos, a maior associação empresarial do país... O fio da meada no Brasil pode ser interminável.

A suspeita novamente é de financiamento ilegal de políticos, o "por fora" que Duda Mendonça imortalizou em cadeia de TV nacional em 2005, quando confessou ter recebido milhões do PT pela campanha de 2002 que levou Lula ao Planalto. Confissão que deveria ter sido motivo suficiente para grande investida contra esse tipo de operação. Mas nada aconteceu. E os serviços de Duda seguem muito disputados.

Isso é o sistema político do Brasil. E também sua Justiça, que tarda, falha e, em última instância, deixa o país na mão.

Contra eles revolta-se uma nova geração de juízes, promotores e policiais justiceiros que queimam etapas para expor e enfiar na cadeia, mesmo que por um dia, atores dessa mal cheirosa parceria público-privada.

E se a atuação desafiadora desses novos xerifes da moralidade dá vazão à justa revolta contra a devassidão brasileira, tão antiga quanto nossas raízes ibéricas, é preciso analisar seus resultados de forma fria e inteligente. Os revolucionários da primeira instância nos levarão a um padrão melhor de governança?

Parece que não será por aí.

As grandes operações da PF, sempre amparadas em promotores e juízes jovens, chegam cada vez mais alto na pirâmide do poder brasileiro, tanto público quanto privado. Mesmo assim o sistema está mais forte do que nunca.

Basta ver a desfaçatez dos escândalos no Congresso. Ou as denúncias contra grandes obras do governo Lula. Ou contra o metrô de São Paulo. Ou contra obras de grandes empreiteiras brasileiras em países sul-americanos, com apoio do BNDES.

Apesar do estardalhaço de jornais, delegados, promotores e juízes, o grande esquema não só vai muito bem como está em franca expansão, inclusive internacional. Até porque a entrada do PT nesse jogo foi o apito final que igualou a todos.

Por isso não serão prisões relâmpagos nem declarações pomposas de juízes e promotores que sanearão o país. É preciso mais do que voluntarismo.

Não será uma pena de 94 anos e meio para a dona da Daslu que acabará com a grande sonegação no Brasil. Nem a prisão temporária de doleiros e diretores de empreiteiras que acabará com a corrupção político-empresarial.

Pelo contrário. Excessos justiceiros no início do processo facilitam a vida dos advogados de defesa no seu final.

Pelo grau de abrangência pandêmica do grande pacto nacional, seria preciso uma ação firme e conjunta nos Três Poderes para começar de fato a erradicar a corrupção que nos condena ao atraso. Mas eles são mais parte do problema do que sua solução.

Fim de jogo.

Perdemos.

Sérgio Malbergier é editor do caderno Dinheiro da Folha de S. Paulo. Foi editor do caderno Mundo (2000-2004), correspondente em Londres (1994) e enviado especial a países como Iraque, Israel e Venezuela, entre outros. Dirigiu dois curta-metragens, "A Árvore" (1986) e "Carô no Inferno" (1987). Escreve para a Folha Online às quintas.
E-mail: smalberg@uol.com.br
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