quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

A DITADURA E O BISPO


Dom Cappio diz que governo Lula é "ditadura declarada"

FÁBIO GUIBU
da Agência Folha, em Sobradinho

O bispo de Barra (BA), dom Luiz Flávio Cappio, 61, classificou ontem o governo Luiz Inácio Lula da Silva de "ditadura declarada" por ainda não ter cumprido decisão judicial que determinou a suspensão imediata das obras da transposição das águas do rio São Francisco.

"Quando não se obedece mais o Judiciário, isso se caracteriza como uma ditadura declarada", afirmou o religioso, em Sobradinho (540 km de Salvador), onde jejua há 16 dias contra a transposição.

Dom Luiz afirmou que "há um total desprezo em relação a uma ordem judicial". "Isso denota que, se já não estamos nela, estamos à beira de uma ditadura." A liminar (decisão provisória) foi concedida anteontem e, as obras, tocadas pelo Exército, ainda prosseguiam ontem.

O ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, disse à Folha ontem que ainda não havia sido notificado da decisão. "Assim que isso acontecer, imediatamente o comando do Exército será notificado", afirmou. "Este é um governo legalista, e decisão da Justiça não se discute, se recorre."

Dom Luiz, que jejua na igreja de São Francisco, apoiado por militantes e religiosos acampados ao lado da capela, disse que a reunião de ontem entre Lula e a cúpula da CNBB (Confederação Nacional dos Bispos do Brasil) não encerrará seu protesto. "Não muda nada."

"Permaneço com a mesma disposição", disse. "Meu estado de saúde se coloca em quarto, quinto lugar. A grande prioridade é perguntarmos como vai o estado de saúde da democracia brasileira."

O bispo não comentou as declarações feitas pelo presidente da CNBB, d. Geraldo Lyrio, após a reunião, de que a greve de fome era uma decisão pessoal do religioso e que a manutenção do jejum "até o fim" seria ruim para a Igreja.

Ele disse que dom Geraldo lhe telefonou dizendo que irá a Sobradinho, em data ainda não definida, para conversar sobre a reunião com Lula. Para o bispo, a CNBB mantém o seu apoio a ele.

Sobre a possibilidade de aceitar novo acordo com o governo para encerrar o protesto, o bispo disse: "Já fui enganado uma vez". Ele se referia ao jejum de 11 dias que realizou há dois anos. "À época, o governo se comprometeu a paralisar a obra e debater o projeto. Em vez disso, colocou o Exército para trabalhar", afirmou.

O bispo de Barra disse que se sente fraco e com a cabeça "pesada" devido ao longo período sem alimento. Apesar disso, mantém a lucidez e a aparência saudável. Recebe romeiros diariamente, que o homenageiam e tiram fotos.

Ontem, um grupo de pescadores baianos promoveu uma pequena romaria até a igreja, cantando "Caminhando (Pra não dizer que não falei de flores)", de Geraldo Vandré. O cortejo emocionou as pessoas que estavam no local, e todos se uniram na cantoria.

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