Matilde tem de sair, sim. Mas Lula humilha os negros
Sempre disse que o aspecto mais deletério do governo Lula é o rebaixamento das instituições. O PT nos cobre de vergonha. Eis aí. O presidente está prestes a assinar a sua “Lei Fleury” para permitir que seu amigo e o financiador de seu filho “legalizem” uma operação entre empresas de telefonia. Agora vem esta piada: um decreto para determinar que seus auxiliares devem ter vergonha na cara. Trata-se de uma tolice, de uma estupidez, coisa de petista. Lembra aquele da governadora do Pará, Ana Júlia Carepa, que determinava que mulheres, homens e menores não poderiam ficar numa mesma cela. Acontece que aquilo sempre foi ilegal. O mesmo faz Lula. Não pode usar o cartão corporativo para despesas pessoais. Ah, é? Mas nunca foi permitido. Proíbem-se o uso para comprar passagens e saques em dinheiro – a menos que seja numa emergência... E notem: dos de R$ 75,6 milhões gastos com cartão no ano passado, nada menos de R$ 45 milhões eram saques na boca do caixa. Para quê? Ninguém sabe.
A ministra Matile Ribeiro, como diria frei William, de O Nome da Rosa, já é carne queimada. Está fora. Pode arrumar as trancinhas e a trouxa e pedir pra sair. É, com efeito, a moça enfiou o pé da jaca, não é mesmo? O Jornal da Globo mostrou ontem à noite: andava de carro alugado e motorista em pleno feriadão, quando não tinha agenda. E por que ela fazia isso? Ora, porque podia. Tem de ser demitida, sim. Mas é evidente que ela se transformou num bode expiatório. Observem: a mulher é uma inexperiente naquilo em que os petistas são profissionais. Ela deixava rastro, a bobalhona. Tivesse sacado o dinheiro na boca do caixa, como aqueles que gastaram R$ 45 milhões, e ninguém saberia de nada. Matilde só fez o que viu fazer à sua volta. Sua causa, ideologicamente, é puro ludíbrio, mas ela, pobrezinha, padece daquela inocência do deslumbramento, de quem cai de boca no pote de melado.
Fez besteira e, por isso, vai cair. E tem de cair. Mas será servida como boi de piranha, para que a manada do lulismo passe incólume. A questão está longe de ser resolvida. E os R$ 45 milhões sacados em espécie? Por quem? Para quê? Se o próprio Lula, em seu decreto, decidiu “proibir”, então admite a farra. E há dois outros aspectos perversos nisso tudo.
O primeiro é este: a tal secretaria é nada. Seu orçamento é minúsculo. Quem quer fazer negócio com a ministra Matilde? Ninguém. À parte os caraminguás que ela gastou – se considerarmos a farra total -, a sua pasta está longe de chamar a atenção da turma da grana pesada. Matilde sai, e a roubalheira no país não é nem mesmo arranhada. Os realmente safados gastam pouco com cartão. Não costumam deixar rastro nem atos de ofício.
O segundo aspecto é este: o governo Lula humilha os negros – mais uma vez: as cotas já são uma humilhação. E explico a razão. É claro que Matilde não gastou aquilo tudo porque é negra. Mas ela é negra. E só ocupa aquele cargo, sobre a causa negra, porque é negra. Repito as palavras aqui de modo proposital. As políticas sociais do governo Lula são marketing, publicidade, adesão rasteira ao politicamente correto. Nada mais. O seu “negro” é de propaganda.
Se a maioria das pessoas com essa cor de pele está entre as camadas mais pobres da população, e está, a única maneira de responder a suas necessidades é com políticas UNIVERSAIS de inclusão social: educação decente, por exemplo. Ao entregar uma secretaria sem verba e sem projeto a uma pessoa visivelmente despreparada – que não sabe nem trapacear, no que os “companheiros” são muito bons -, banalizou a causa. E agora oferecerá a ministra na bandeja. Para que o circo continue.
Mas os esquerdopatas e os “pogreçista” da imprensa acham que o caminho é mesmo esse. Acreditem: a convivência entre as diferenças (de cor de pele, sexo, ideologia, classe) sofreu uma regressão brutal no governo petista. E cumpre que as oposições deixem muito claro: a questão não é o dinheiro de Matilde, mas os R$ 75,6 milhões do conjunto, R$ 45 milhões em moeda sonante.
Por Reinaldo Azevedo
Um comentário:
Este é um artigo preconceitudoso de quem desconhece as lutas contra o racismo. Matilde é uma militante comprometida com sua causa e isso de longa data. Mas num país de elites poderosas comandadas por homens brancos (que estão acostumados a ver a mulher negra como empregada), é difícil aceitar que essa mulher negra ocupe cargos de poder.
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