sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

O HOMEM BLINDADO PELA "FORÇA DO POVO"


Lula quer CPI de direção exclusivamente governista

Sérgio Lima/Folha


O impasse que impede o governo de compartilhar com a oposição o comando da CPI dos Cartões tem nome. Chama-se Lula. Em reunião realizada na quarta-feira (20), no Planalto, o presidente informou aos seus dois principais operadores políticos que é contra a idéia de entregar ao tucanato a presidência da comissão. Ouviram-no o coordenador político José Múcio e o líder no Senado Romero Jucá.


Lula foi taxativo. Disse que o regimento do Congresso assegura aos dois maiores partidos –PMDB e PT—a indicação do presidente e do relator da CPI. Portanto, não considera razoável que o governo ceda um dos postos à oposição. Defende a manutenção dos nomes já indicados: para a presidência, o senador Neuto de Conto (PMDB-SC); para a relatoria, o deputado Luiz Sérgio (PT-RJ).


Na véspera, terça-feira (19), de volta de uma viagem ao Espírito Santo, Lula já havia compartilhado sua opinião com um outro parlamentar governista. Fora igualmente enfático. Falara do respeito ao regimento e do descabimento da pretensão oposicionista. O interlocutor ponderou que a intransigência poderia envenenar a atmosfera do Congresso. Lula deu de ombros.


O congressista reteve da conversa a impressão de que o presidente está se lixando para o esperneio da oposição. Lula recebera naquela mesma terça-feira a boa nova da última pesquisa de opinião. Sua popularidade roçara as nuvens: 66,8%. Na próxima semana, vai tentar mudar de assunto. Enviará ao Congresso o projeto de reforma tributária. Se PSDB e DEM preferirem dar ênfase à encrenca dos cartões, pouco se lhe dá.


Na noite de quarta-feira (20), Romero Jucá tocara o telefone para o senador Sérgio Guerra (PE), presidente do PSDB. Disse-lhe que voltaria ao tema da CPI em reunião dos líderes governistas, no Planalto. Propugnaria pelo entendimento com a oposição. O encontro mencionado por Jucá, de fato, ocorreu. Deu-se nesta quinta-feira (21). Mas o tema levado à mesa foi outro: a reforma tributária.


Os poucos que se animaram a tratar de CPI o fizeram lateralmente. Ainda assim, para esgrimir tese oposta à de Jucá. Por exemplo: o deputado Maurício Rands (PE), líder do PT no Câmara, disse que seu partido não cogita abraçar a tese da divisão do comando da CPI.


No final da tarde, em diálogo com o colega José Agripino Maia (RN), líder do DEM, Jucá disse que Lula o havia liberado para resolver o problema da CPI no âmbito do Congresso. O que o consórcio governista resolvesse estaria bem resolvido. Meia verdade. Convenientemente, Jucá omitiu de Agripino a metade referente ao ponto de vista de Lula, frontalmente contrário à reivindicação da oposição. Uma opinião que Jucá ainda espera reverter a partir de uma costura feita no Legislativo. Impossível? Não. Mas será difícil convencer os governistas a ceder espaço à oposição contra a opinião de Lula.


Numa tentativa de ganhar tempo, arrastou-se para o centro da articulação o presidente do Senado. Garibaldi Alves (PMDB-RN) prometera a Arthur Virgílio (AM), líder do PSDB, que leria no plenário, ainda nesta quinta, o pedido de abertura da segunda CPI dos Cartões. Uma comissão só do Senado, sem a presença de deputados, urdida por tucanos e ‘demos’ justamente para pressionar o governo a ceder à oposição a presidência da outra CPI, a mista.


Garibaldi, porém, voou para São Paulo. Tinha encontro marcado com o governador José Serra. Deixou para trás uma recomendação que irritou Virgílio. Antes de ser levado ao plenário, o requerimento da CPI exclusiva do Senado teria de ser discutido numa reunião de líderes, marcada para terça-feira (26) da semana que vem.


Em privado, Virgílio disse que sua “paciência” com Garibaldi está “no limite”. No plenário, comparou a gestão de Lula à do general Figueiredo. Disse que, sob o último presidente da ditadura militar, houve duas CPIs no Senado: a do escândalo Coroa-Brastel e a do BNH.


Na primeira, disse Virgílio, o relator foi o então deputado Alberto Goldman (SP), à época um comunista abrigado sob o guarda-chuva do PMDB. O líder tucano espetou: “Nem a ditadura se intrometeu dessa maneira no Legislativo. Nem o regime militar usou sua maioria para praticar esse tipo de manobra.”


Virgílio e Agripino deliberaram o seguinte: se a oposição não obtiver a presidência da CPI mista dos Cartões, PSDB e DEM se esquivarão de indicar os seus representantes na comissão, o que a impediria de funcionar. Priorizariam a CPI do Senado, onde terão assento na direção e equilíbrio no plenário. “Se eles não indicarem, eu indico”, dissera Garibaldi antes de viajar para São Paulo. “Se ele indicar alguém do PSDB, num gesto de ousadia, eu destituo imediatamente”, redargüiu Virgílio.


Parte dos senadores do PMDB, como sói acontecer, enxergou no sururu que se arma no Senado uma avenida de oportunidades. A bancada do partido organiza para a próxima semana um jantar dos descontentes. Queixam-se da demora do Planalto em nomear os seus apadrinhados para estatais do setor elétrico. Empresas que pendem do organograma do ministério das Ministério das Minas e Energia, confiado ao neo-peemedebista Edison Lobão (MA).


O repasto dos insatisfeitos, ainda sem data marcada, deve ocorrer na casa de Valter Pereira (PMDB-MS). No final do ano passado, em jantar semelhante, oferecido pelo mesmo senador, os peemedebistas armaram uma revolta quetransformou Roberto Mangabeira Unger em ministro sem pasta.

Escrito por Josias de Souza


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