Nada mais pelego. A Folha de S. Paulo poderia ter nos poupado dessa joça. "Nunca na história desse País" houve um texto tão encoleirado, à serviço dos interesses do Estado burro, inchado, ineficiente, incomPTente e corrupto. Até parece edição do Granma, único jornal cubano que coloca apenas os dados "oficiais" da ditadura de Fidel Castro.
KENNEDY ALENCAR Colunista da Folha Online
Falta de informação segura sobre a causa do acidente da TAM. Receio de que palavras suas pudessem ser interpretadas por familiares dos mortos como tentativa de se eximir de eventual responsabilidade ou de mostrar solidariedade apenas por cálculo político. Decisão de anunciar medidas concretas em resposta à crise aérea, que ganhava então sua feição mais dramática.
Evitar conflito com setores da oposição e da mídia que apontavam culpa do governo por conta da suspeita de pista lisa em tempo chuvoso. Inflamação da pálpebra no dia seguinte à tragédia que exigiu cirurgia, tapa-olho com gelo e sedativo que o fez dormir boa parte da tarde. Por último, dificuldade para lidar com a morte --tema que evoca lembranças dos falecimentos de sua primeira mulher, Maria de Lourdes, em 1971, e de sua mãe, Eurídice Ferreira de Melo, chamada de dona Lindu, em 1980.
Segundo integrantes da cúpula do governo, esse conjunto de razões levou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a demorar 73 horas para se manifestar diretamente, em pronunciamento em rádio e TV, a respeito do maior acidente aéreo da história do Brasil.
A seguir, a reconstituição dos bastidores da reação inicial do presidente ao acidente com o Airbus-A320 da TAM, vôo 3054, que matou 199 pessoas ao sair da pista do aeroporto de Congonhas às 18h50 no dia 17 de julho.
Lula estava em seu gabinete no terceiro andar do Palácio do Planalto quando o brigadeiro Joseli Parente Camelo, chefe das missões aéreas da Presidência, lhe disse que um acidente acontecera no aeroporto de Congonhas. "O gabinete ficou cheio de gente em frente da televisão, num ambiente de velório e tensão", de acordo com um dos presentes.
Lula criou um gabinete de crise com os ministros Dilma Rousseff (Casa Civil), Franklin Martins (Comunicação de Governo), Waldir Pires (Defesa) e assessores, como o seu chefe de gabinete, Gilberto Carvalho. Perguntas óbvias foram feitas pelo presidente. Quantos morreram? Havia sobreviventes? Causas?
Enviado para São Paulo, o brigadeiro Juniti Saito, comandante da Aeronáutica, conversaria com o presidente por telefone mais tarde e deixaria claro que a dimensão do acidente fora tremenda. Relatou que provavelmente não havia sobreviventes. A tese de "tragédia anunciada", levantada por jornalistas, políticos da oposição e pelo Sindicato Nacional dos Aeronautas, causou preocupação no gabinete de crise.
Segundo relato de auxiliares, Lula pediu "calma" em relação ao que foi chamado no Palácio do Planalto de "ataque furioso da imprensa". O presidente disse que o acidente seria investigado, que não adiantava ficar brigando e que não falaria enquanto não tivesse o mínimo de informação segura. Autorizou apenas a nota de pesar lida pelo porta-voz da Presidência, Marcelo Baumbach. O presidente e os ministros deixaram o Planalto depois da meia-noite.
No dia seguinte, Lula acordou com "um terçol do tamanho de um bonde", nas palavras de um auxiliar. De manhã, fez pequena cirurgia na pálpebra superior do olho direito. Antes de tomar sedativo, o presidente decidiu que precisava demitir Waldir Pires da Defesa rapidamente.
Autocrítica feita por Lula e toda a equipe: o governo demorou a entender a gravidade da crise aérea e errou ao não substituir Pires no final de 2006, quando o presidente já havia tomado a decisão de tirá-lo. O presidente aguardava um momento de trégua na crise aérea para trocar Pires, mas acabou demitindo-o nas piores circunstâncias possíveis para quem desejava preservá-lo pessoal e politicamente.
O presidente determinou que emissários voltassem a convidar para o cargo o ex-presidente do STF (Supremo Tribunal Federal) Nelson Jobim, que já havia recusado a tarefa semanas antes da tragédia. (Dias depois, numa operação que envolveu amigos e até um oposicionista, Jobim aceitaria o cargo.)
Feita a cirurgia, o presidente foi para o Palácio do Planalto, onde deu as orientações para a nova tentativa de convencer Jobim a assumir a Defesa. Dirigiu-se por volta das 13h para o Palácio da Alvorada, sua residência oficial. Sob medicação, Lula dormiu até o fim da tarde do dia 18 de julho, uma quarta-feira. No início da noite, o gabinete de crise voltou a se reunir no Palácio da Alvorada. Lula recusou sugestão de "mostrar presença solidária", indo ao local do acidente ou se manifestando pessoalmente. Julgou que poderia soar como ato de marketing. Optou por falar em pronunciamento em cadeia nacional de rádio e TV, mas somente depois de adotar medidas concretas e de ter alguma noção da causa do acidente.
Lula marcou reunião da cúpula do governo e do Conac (Conselho de Aviação Civil) para a manhã seguinte. Acelerou a adoção de medidas que estavam em estudo: fim de escalas e conexões em Congonhas em 60 dias, proibição de vôos fretados no aeroporto, redistribuição de vôos para outros aeroportos e apresentação em 90 dias de estudo sobre o local de novo aeroporto em São Paulo.
O texto do pronunciamento foi escrito por Franklin Martins, com sugestões do marqueteiro João Santana, de outros ministros e do próprio Lula. Na noite de sexta-feira, 20 de julho, mais de 73 horas depois da tragédia, Lula disse em cadeia de rádio e TV que estava com "o coração sangrando". Pediu que não fossem feitos julgamentos "precipitados".
Um amigo antigo de Lula conta que em poucos episódios o viu tão abatido. Diz que ele repetia um bordão nos dias posteriores à tragédia. "Nada do que a gente fizer vai resolver o principal: devolver a vida a essas pessoas".
De acordo com esse amigo, Lula lida mal com a morte. Dois episódios contribuiriam para isso. No ano de 1971, a primeira mulher, Maria de Lourdes, grávida de sete meses, chegou ao hospital com hepatite. Suposta negligência no atendimento resultou na morte dela e do bebê. Quando a mãe de Lula morreu, em 1980, ele estava preso devido a greve no ABC. Foi liberado pelo então delegado Romeu Tuma, hoje senador pelo DEM de São Paulo, para acompanhar o velório e o enterro. Depois, retornou ao Dops, órgão de repressão política da ditadura militar.
A tragédia da Airbus da TAM e a lembrança das mortes da primeira mulher e da mãe teriam deixado o presidente algo paralisado em alguns momentos.
Kennedy Alencar, 39, é colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre os bastidores da política federal, aos domingos.
Veja a que ponto chegou o "jornalismo" no Brasil: dizer que Lula-lá, desde que perdeu a ex-mulher e a mãe, tem problema em lidar com a morte foi a pior "desde que Cabral pôs os pés aqui". Kennedy Alencar, tenha dó; e vergonha... Mande um e-mail para o jornalista da Folha e mostre que você não é massa de manobra política: kalencar@folhasp.com.br
Ah, América latina da ideologia das cavernas...
Por que Lula demorou 73 horas a falar sobre o acidente
KENNEDY ALENCAR Colunista da Folha Online
Falta de informação segura sobre a causa do acidente da TAM. Receio de que palavras suas pudessem ser interpretadas por familiares dos mortos como tentativa de se eximir de eventual responsabilidade ou de mostrar solidariedade apenas por cálculo político. Decisão de anunciar medidas concretas em resposta à crise aérea, que ganhava então sua feição mais dramática.
Evitar conflito com setores da oposição e da mídia que apontavam culpa do governo por conta da suspeita de pista lisa em tempo chuvoso. Inflamação da pálpebra no dia seguinte à tragédia que exigiu cirurgia, tapa-olho com gelo e sedativo que o fez dormir boa parte da tarde. Por último, dificuldade para lidar com a morte --tema que evoca lembranças dos falecimentos de sua primeira mulher, Maria de Lourdes, em 1971, e de sua mãe, Eurídice Ferreira de Melo, chamada de dona Lindu, em 1980.
Segundo integrantes da cúpula do governo, esse conjunto de razões levou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a demorar 73 horas para se manifestar diretamente, em pronunciamento em rádio e TV, a respeito do maior acidente aéreo da história do Brasil.
A seguir, a reconstituição dos bastidores da reação inicial do presidente ao acidente com o Airbus-A320 da TAM, vôo 3054, que matou 199 pessoas ao sair da pista do aeroporto de Congonhas às 18h50 no dia 17 de julho.
Lula estava em seu gabinete no terceiro andar do Palácio do Planalto quando o brigadeiro Joseli Parente Camelo, chefe das missões aéreas da Presidência, lhe disse que um acidente acontecera no aeroporto de Congonhas. "O gabinete ficou cheio de gente em frente da televisão, num ambiente de velório e tensão", de acordo com um dos presentes.
Lula criou um gabinete de crise com os ministros Dilma Rousseff (Casa Civil), Franklin Martins (Comunicação de Governo), Waldir Pires (Defesa) e assessores, como o seu chefe de gabinete, Gilberto Carvalho. Perguntas óbvias foram feitas pelo presidente. Quantos morreram? Havia sobreviventes? Causas?
Enviado para São Paulo, o brigadeiro Juniti Saito, comandante da Aeronáutica, conversaria com o presidente por telefone mais tarde e deixaria claro que a dimensão do acidente fora tremenda. Relatou que provavelmente não havia sobreviventes. A tese de "tragédia anunciada", levantada por jornalistas, políticos da oposição e pelo Sindicato Nacional dos Aeronautas, causou preocupação no gabinete de crise.
Segundo relato de auxiliares, Lula pediu "calma" em relação ao que foi chamado no Palácio do Planalto de "ataque furioso da imprensa". O presidente disse que o acidente seria investigado, que não adiantava ficar brigando e que não falaria enquanto não tivesse o mínimo de informação segura. Autorizou apenas a nota de pesar lida pelo porta-voz da Presidência, Marcelo Baumbach. O presidente e os ministros deixaram o Planalto depois da meia-noite.
No dia seguinte, Lula acordou com "um terçol do tamanho de um bonde", nas palavras de um auxiliar. De manhã, fez pequena cirurgia na pálpebra superior do olho direito. Antes de tomar sedativo, o presidente decidiu que precisava demitir Waldir Pires da Defesa rapidamente.
Autocrítica feita por Lula e toda a equipe: o governo demorou a entender a gravidade da crise aérea e errou ao não substituir Pires no final de 2006, quando o presidente já havia tomado a decisão de tirá-lo. O presidente aguardava um momento de trégua na crise aérea para trocar Pires, mas acabou demitindo-o nas piores circunstâncias possíveis para quem desejava preservá-lo pessoal e politicamente.
O presidente determinou que emissários voltassem a convidar para o cargo o ex-presidente do STF (Supremo Tribunal Federal) Nelson Jobim, que já havia recusado a tarefa semanas antes da tragédia. (Dias depois, numa operação que envolveu amigos e até um oposicionista, Jobim aceitaria o cargo.)
Feita a cirurgia, o presidente foi para o Palácio do Planalto, onde deu as orientações para a nova tentativa de convencer Jobim a assumir a Defesa. Dirigiu-se por volta das 13h para o Palácio da Alvorada, sua residência oficial. Sob medicação, Lula dormiu até o fim da tarde do dia 18 de julho, uma quarta-feira. No início da noite, o gabinete de crise voltou a se reunir no Palácio da Alvorada. Lula recusou sugestão de "mostrar presença solidária", indo ao local do acidente ou se manifestando pessoalmente. Julgou que poderia soar como ato de marketing. Optou por falar em pronunciamento em cadeia nacional de rádio e TV, mas somente depois de adotar medidas concretas e de ter alguma noção da causa do acidente.
Lula marcou reunião da cúpula do governo e do Conac (Conselho de Aviação Civil) para a manhã seguinte. Acelerou a adoção de medidas que estavam em estudo: fim de escalas e conexões em Congonhas em 60 dias, proibição de vôos fretados no aeroporto, redistribuição de vôos para outros aeroportos e apresentação em 90 dias de estudo sobre o local de novo aeroporto em São Paulo.
O texto do pronunciamento foi escrito por Franklin Martins, com sugestões do marqueteiro João Santana, de outros ministros e do próprio Lula. Na noite de sexta-feira, 20 de julho, mais de 73 horas depois da tragédia, Lula disse em cadeia de rádio e TV que estava com "o coração sangrando". Pediu que não fossem feitos julgamentos "precipitados".
Um amigo antigo de Lula conta que em poucos episódios o viu tão abatido. Diz que ele repetia um bordão nos dias posteriores à tragédia. "Nada do que a gente fizer vai resolver o principal: devolver a vida a essas pessoas".
De acordo com esse amigo, Lula lida mal com a morte. Dois episódios contribuiriam para isso. No ano de 1971, a primeira mulher, Maria de Lourdes, grávida de sete meses, chegou ao hospital com hepatite. Suposta negligência no atendimento resultou na morte dela e do bebê. Quando a mãe de Lula morreu, em 1980, ele estava preso devido a greve no ABC. Foi liberado pelo então delegado Romeu Tuma, hoje senador pelo DEM de São Paulo, para acompanhar o velório e o enterro. Depois, retornou ao Dops, órgão de repressão política da ditadura militar.
A tragédia da Airbus da TAM e a lembrança das mortes da primeira mulher e da mãe teriam deixado o presidente algo paralisado em alguns momentos.
Kennedy Alencar, 39, é colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre os bastidores da política federal, aos domingos.
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