segunda-feira, 5 de maio de 2008

"EDUCASSÃO" EM FOCO


JÁ COLOQUEI OS DOIS TEXTOS EM ORDEM PARA FACILITAR SUA LEITURA E ENTENDER O QUE OS "PROGREÇISTAS" DO PT ESTÃO FAZENDO COM A "HISTÓRIA DESSE PAÍS"...


O vestibular da enganação

A história de um candidato que passou no vestibular e fez a inscrição para a faculdade virou notícia. Ele tinha só 8 anos. Será que certos vestibulares para faculdades pagas mais parecem provas de ensino fundamental? O Fantástico resolveu fazer o teste. A cada ano, cinco milhões de candidatos disputam vestibulares em todo o país, segundo o último censo do Ministério da Educação, de 2005. As vagas disponíveis são 2,5 milhões. Destas, só 300 mil para universidades e faculdades públicas. E 80% dos universitários estão em escolas privadas. Cada ano, em média, surgem cem faculdades privadas.

“Esse sistema particular se inchou e precisa de alunos como condição de sobrevivência. Ele começa a usar estratégias de mercado no sentido de ter o aluno que ele precisa com o potencial de pagar a mensalidade, com potencial de comprar as coisas que existem dentro dos seus shoppings, menos interessado talvez no seu mérito acadêmico, na reflexão que o aluno é capaz de fazer. Então, é um grande mercado de diplomas”, explica o educador Zacarias Gama.

A prova do vestibular existe para evitar que alunos não qualificados consigam ingressar na universidade. Mas a lei é pouco exigente quanto ao conteúdo das provas: a única determinação é que seja feita uma redação com caráter eliminatório. Cada instituição decide como vai avaliar os candidatos. “O Ministério de Educação não tem como avaliar e não é de sua competência avaliar diretamente cada uma das provas. É uma incumbência de cada instituição por conta da sua autonomia”, afirma um representante do MEC.

É só entrar nos sites de algumas faculdades privadas para ver como o vestibular é fácil. Em alguns casos a prova é só uma redação. Ou então, você pode fazer o vestibular no computador, no dia e hora que quiser, e o resultado sai em meia-hora. Encontramos uma prova aplicada no ano passado por uma universidade particular do Rio de Janeiro, a Unigranrio, e resolvemos fazer um teste.

O Fantástico reuniu 21 alunos do ensino fundamental, com idades entre 9 e 11 anos. Propusemos a eles o desafio de fazer uma prova que, em tese, só alunos que completaram o ensino médio estariam capacitados a enfrentar.

"Algumas questões, eu até acho que ele acerta: geografia, história, português. Eu acredito que ele faça uma boa redação. Agora, o resto ele vai chutar mesmo”, explica Márcio Esser, pai de um dos alunos. Os pequenos voluntários estudam em colégios diferentes, públicos e particulares, no Rio. "Vocês vão fazer essa prova, ela é composta de uma redação", propõe o professor Néliton Ventura, coordenador do vestibular da Universidade Federal Fluminense(UFF).

A prova foi aplicada e corrigida pela comissão de vestibular da UFF, a Universidade Federal Fluminense. Detalhe importante: nem os professores, nem os alunos sabiam de qual universidade era o exame. "A finalidade da nossa participação é, exatamente suscitar na sociedade a discussão pelo aprimoramento dos mecanismos de acesso ao ensino superior", esclarece Ventura.

Para começar, a redação. O tema foi moleza para os nossos bravos candidatos. Eles precisavam escrever sobre os primeiros anos de escola. "Essa proposta favorece um desenvolvimento de texto bastante restrito, infantil, imaturo", comenta a supervisora de redação do vestibular da UFF, Vanda Menezes. Para Breno, de 9 anos, a redação foi fácil.

Logo depois, o aluno tinha que acertar, pelo menos, uma das três questões discursivas. Veja a pergunta, como é fácil: "em qual continente está inserida a Colômbia?". A resposta é simples: América do Sul! De acordo com as regras da universidade, essa etapa da prova - a redação e as perguntas discursivas - é eliminatória. Quase metade dos nossos aluninhos se deu bem. “Em torno de sete a oito crianças não seriam eliminadas e talvez duas ou três tivessem probabilidade de conseguirem classificação entre as vagas”, diz Ventura.

Veja que ridícula esta pergunta de múltipla escolha. Para responder a questão 32, bastava o candidato saber a diferença entre maior, menor e igual! "Dizer se um número é maior do que o outro, isso aí seria muito fundamental e acho também que é até bizarrol", analisa o professor de matemática da Uff, Luiz Cruz. E tem mais! Pelo regulamento, só será reprovado no vestibular o candidato que acertar menos de 10% das questões de múltipla escolha. Ou seja, basta acertar 6 das 60 perguntas para se classificar.

As duas primeiras colocadas acertaram 30 questões, ou seja, acertaram metade das 60 questões. Algumas dessas questões valiam dois pontos. Somando os acertos, as campeãs, Isabela, Rafaela e Ana Clara, conseguiram 40 pontos ou mais de um total de 90. O que isso significa? Com 35 pontos o aluno consegue se matricular para os cursos de administração, ciências contábeis e pedagogia. “Mesmo não estudando para o vestibular, você pode fazer esta prova até no chute. Eu, por exemplo, que estou defasado, posso fazer 25 pontos” , admite o pró-reitor da faculdade.

O repórter pergunta: Qual a nota mínima de corte, por exemplo, num curso como administração? “Eu não me preocupo com isso. Olhando nos seus olhos: eu não me preocupo com isso. Eu não preciso disso. Eu não valorizo isso”, revela o pró-reitor. “Tem alunos que passaram com 25,26 pontos para administração”, diz a secretária da universidade. Então, outras seis crianças do nosso desafio também teriam vaga nessa universidade: elas tiraram 27 pontos ou mais. Já são nove crianças aprovadas em nosso teste.

“Isso é muito preocupante porque ela não tem preparação nenhuma pra entrar numa faculdade”, Patrícia Alves, mãe de Isabela. O Fantástico procurou o presidente da Associação Nacional das Universidades Privadas, a Anup, para comentar o processo seletivo dessas instituições, inclusive da Unigranrio. “A Anup orienta as universidades para que mesmo que eles facilitem o vestibular, que coloquem o aluno dentro da universidade. Os melhores alunos do ensino médio não vão para inicativa privada. Eles vão primeiro para o ensino público gratuito. O que sobra para o ensino particular é efetivamente aquele problemático”, comenta Abib Cury, presidente da Anup.

“Acho que na verdade a universidade tem um critério seletivo muito baixo. Está querendo aceitar qualquer tipo de aluno e acha que ter os alunos em sala de aula não significa apenas ter mais um profissional no mercado brasileiro, sendo qualificado, mas sim alguém que vai estar ali mantendo o carnê em dia, que é uma instituição sendo rentável”, critica o educador Cláudio Mendonça.

Por Reinaldo Azevedo

Em macroeconomia, BBB-. Em educação, D, em “default”

Fantástico reuniu um grupo de alunos do ensino fundamental para fazer um vestibular de uma universidade chamada Unigranrio. Boa parte deles seria aprovada. No teste, perguntavam-se coisas complexas como o continente em que fica a Colômbia e se 2 é maior ou menor do que nove. O meu velho teste do “diga rápido quanto é sete vezes nove” para saber como andam as escolas passou longe daquela prova. Só havia questões fáceis...

Fernando Haddad, ministro da Educação eventualmente lembrado para sucessor de Lula — ele tem uma aparência asséptica de bom moço, embora diga coisas assombrosas quando escreve, por exemplo, sobre socialismo, — comanda hoje um dos maiores esquemas de transferência, a fundo perdido, de recursos públicos para o setor privado — para o pior setor privado, é bom deixar claro. Já volto aqui. Antes, algumas considerações.

Não tenho nada contra a que motoristas de táxi, padeiros ou torneiros-mecânicos sejam formados em engenharia, direito ou administração. Melhor do que um torneiro-mecânico ignorante, sem dúvida. Se o motorista, diplomado em história, quiser fazer digressões sobre a crise do ano 1.000 enquanto roda, talvez seja mais agradável do que aquele exercício constante de teses conspiratórias a que se dedica parte da categoria. Ademais, sou favorável à lei de mercado também para o ensino superior: se uma escola for muito ruim, o mercado de trabalho se encarregará de dizê-lo. E o estudante escolhe se quer estudar ali ou em outro lugar. Mas e quando o dinheiro público entra na parada, e o único a fazer escolhas é o governo?

Vejam o mimo que está no site da Unigranrio:

“PROUNI
A UNIGRANRIO integra o Programa Universidade para Todos – PROUNI, e os critérios de seleção de bolsistas pode ser conhecido por meio de consulta ao SEBBA, Setor de Bolsas e Benefícios da AFE (Associação Fluminense de Educação).”

Agora nós estamos com um problema. E dos grandes. Recursos públicos estão sendo canalizados para escolas de quinta categoria. Assim como se exige que a universidade pública tenha qualidade — e o resultado no Enade dos estudantes de medicina da Universidade Federal da Bahia está dando o que falar —, é preciso exigir o mesmo das instituições particulares. Alguns milhares de alunos do ProUni, que incham as estatísticas para gáudio do lulismo, estão sendo enganados. Ou, se quiserem, enganado está sendo o país.

Que teoria de administração se vai ensinar a um aluno de quem se exige que saiba se dois é maior ou menor do que nove? Ou de quem se cobra, numa redação, que escreva sobre seus primeiros anos escolares? É evidente que se trata de um teste boçal, que infantiliza os alunos. Reitero: cada um sabe o que faz com o seu dinheiro. Acho até simpático que tenhamos balconistas arquitetos e garçons economistas, a questão é saber com que recursos se opera essa estrovenga. Alimentar a enganação com dinheiro público é inaceitável.

No texto que sugeri que leiam, nota-se numa fala ou outra certa animosidade contra o ensino privado. Isso, claro, é besteira. Por mim, as universidades e faculdades particulares parariam com essa fantasia de vestibular — a menos que tivessem menos vagas do que candidatos; nesse caso, alguma seleção é necessária, a exemplo das instituições públicas. Se há quem pague pelo curso que elas oferecem, muito bem. Mas transferir recursos públicos para o que não passa de enganação? Aí não dá.

É evidente que, se essa promiscuidade se desse num governo que os tontos-maCUTs considerassem de direita, o mundo viria abaixo. A UNE já estaria nas ruas, queimando as vestes. Como a expansão do ensino universitário também colabora com o cartório da União Nacional dos Estudantes, por causa da carteirinha, os beneficiários disso que não passa de uma autarquia ficam de bico fechado.

“Ah, olhem lá, que liberal é o Reinaldo, que está querendo mexer numa relação que tem de ser regulada pelo mercado?” Mercado é uma coisa; cartório é outra. Se o dinheiro do ProUni é público — e é —, o estado está contratando um serviço que ele não pode oferecer. E esse serviço tem de ter qualidade. E não tem.

Diogo é BBB-.
Eu sou BBB-.
Você é BBB-.
O Brasil é BBB-.
A educação do petismo é D. Mas é um sucesso de crítica e de público, o que só agrava o problema.

Por Reinaldo Azevedo

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