segunda-feira, 19 de maio de 2008

GRANDE ELIO!


ELIO GASPARI

A privataria aparelhada vai bem, obrigado
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No lugar da "destruição criadora", os companheiros criaram o capitalismo da destruição destruidora
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DEZ ANOS DEPOIS do festivo leilão do Sistema Telebrás, Pedro Jaime Ziller, conselheiro da Anatel, concluiu o monumento da privataria tucana reciclada pelo aparelho empresarial petista. Numa entrevista à repórter Gerusa Marques, ele justificou a compra da Brasil Telecom pela Oi/Telemar com o seguinte argumento: "A BrT e a Oi, do jeito que estavam, corriam o risco de sumir, era questão de tempo".
Quem passa distraído por essa frase pode acreditar que os usuários de 56 milhões de telefones corriam o risco de micar. Num determinado dia as duas empresas sumiriam, emudecendo 26 Estados. Diante desse risco, qualquer esforço seria razoável. Lorota.
Ziller quis dizer outra coisa. Quem corria o risco de sumir não eram as empresas, mas uma boa parte do capital de seus acionistas. Empresa mal administrada quebra e empresa bem administrada ganha dinheiro, coisas do capitalismo.

No mesmo leilão em que o banqueiro Daniel Dantas e os empresários Carlos Jereissati e Sérgio Andrade arremataram as duas operadoras, os americanos da MCI levaram a Embratel por R$ 2,65 bilhões. Passados quatro anos, uma concordata e administrações ruinosas, a companhia foi vendida ao magnata mexicano Carlos Slim por menos da metade do que haviam pago. Coisas do capitalismo.

A Telemar/Oi, a Brasil Telecom e os fundos de pensão de estatais da Viúva que atolaram os bolsos em ambas, operam num capitalismo especial. Com o dinheiro do BNDES, eles convertem aquilo que o economista Joseph Schumpeter chamava de "destruição criadora" das forças do mercado, numa construção criadora de empresários amigos, ora dos sábios tucanos, ora dos comissários de fundos petistas.
No leilão de 1998, Daniel Dantas, associado a alguns fundos de pensão de empresas da Viúva, comprou a rede do Sul do país por R$ 2 bilhões. A Telemar, também associada a fundos de pensão, arrematou 16 operadoras por R$ 3,4 bilhões. Um mês depois, quando chegou a hora de comparecer com o primeiro cheque, a Telemar passou no BNDES e levantou R$ 687 milhões (25% da empresa) a juros camaradas.

O grão-tucano Luiz Carlos Mendonça de Barros, um dos arquitetos da privatização das teles, chamou os marqueses da Telemar de "telegangue". Não é melhor a reputação da Brasil Telecom. Se fosse verdade o que os comissários dos fundos dizem de Daniel Dantas, ele acabaria preso. A recíproca é verdadeira e quem perdeu nessa briga foi a qualidade da administração da empresa.

As normas do setor de telecomunicações não amparam a fusão dessas duas grandes operadoras. Às favas as normas. O preço combinado para a Brasil Telecom foi de R$ 5,86 bilhões. Comemorando o décimo aniversário da privataria tucana, o aparelho companheiro voltou a ligar o motor do BNDES. O banco entrará com R$ 2,6 bilhões. Com isso, ele e os fundos de pensão das estatais ficarão com 49,8% da Oi/Telemar. Privatizaram o patrimônio e estatizaram a fonte de financiamento.

Com tamanha participação do BNDES e dos fundos de pensão, a empresa corre o risco de cair no colo da Viúva daqui a mais uns dez anos. Pelo lado do banco, pode-se argumentar que seu corpo técnico opera dentro de normas rígidas. Pelo lado dos fundos de pensão, não se deve dizer o mesmo. São instituições vulneráveis a um elemento com o qual Schumpeter não lidou: a destruição destruidora.

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc1405200830.htm

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