segunda-feira, 29 de janeiro de 2007

Ferrar é humano


Há poucos dias o Brasil provou que faz parte da América Latina mesmo. Mas como o tempo é o senhor da razão, os 15 minutos de Andy Warhol se foram e o desembargador voltou atrás na decisão de bloquear o site que mostra uma modelo brasileira e seu namorado – sem nomes para evitar mais promoção – em aventura amorosa no mar da Espanha. Ferrados pela censura, mais de cinco milhões de internautas brasileiros morreram na praia ao tentar acessar o site. Ora, se o ato tivesse sido cometido dentro do quarto, do quintal ou até mesmo em praia de propriedade da modelo ou de seu namorado, vá lá, cada um que se ferre como quiser, mas, pessoa pública, fazendo sexo em local público, exigir privacidade é ferrar com a democracia!
O desembargador concluiu que houve o lado positivo: “impedir a divulgação de notícias falsas, injuriosas ou difamatórias não constitui censura judicial”. Qual imagem foi falsa, injuriosa ou difamatória se seus atores principais estavam encenando tranquilamente em público?!

Ferro por ferro o da Venezuela é mais embaixo: o filhote de Fidel Castro, Hugo Chávez, tomou posse de seu terceiro(!) mandato como presidente por meio da “via democrática”. O tri-eleito provocou caos financeiro ao afirmar a nacionalização de empresas estratégicas. É parte de seu projeto socialista. A ameaça surtiu efeito: a Bolsa de Caracas caiu 18,66%; a empresa de telefonia CANTV e a Eletricidade de Caracas despencaram obrigando a Bolsa a parar de negociar suas ações.
Mas o coito não pára: disse ainda que vai acabar com a autonomia do Banco Central e incrementar o controle do Estado sobre projetos petrolíferos na bacia do rio Orinoco. Os EUA, que não querem levar o ferro que o Brasil levou de Evo Morales, já retrucaram o óbvio: vão querer indenização.

Mas o sadomasoquista bolivariano quer mais: reformar a Constituição. Para isso exige de seus socialistas de estimação, que formam maioria na Assembléia Nacional, poderes especiais para aprovar qualquer projeto por decreto, sem a interferência do Legislativo, como por exemplo, o de obter permissão à tara de concorrer à reeleição sem limites de mandatos. Na nomenklatura chavista isso significa “socialismo do século XXI”. Para quem possui pelo menos um par de neurônios significa “ditadura latina do século XXI”.
Aos que denomina “minorias oligárquicas” avisou: “Respeitando-nos, reconhecendo nossas diferenças, vamos assumir a decisão da maioria, regra de ouro se quisermos e acreditamos em uma democracia... A revolução bolivariana não depende de um homem, é o povo”.

Ferrado por ferrado, lembro a frase que uma cubana – segundo a qual, seu povo “recebe em torno de 12 a 30 dólares mensais(!)”, conta com os “carnês de alimentação” que dão direito a “dez ovos por mês” e também ajudam a “comprar um frango, numa semana. Ou quatro pedaços de peixe congelado, em outra. Mas é sempre pouco, insuficiente” - disse ao jornalista Paulo Moreira Leite sobre a insatisfação do povo com a ferrenha ditadura de Fidel Castro, quem se gaba de ter prostitutas com nível superior pelas ruas de Havana: “Somos descontentes porque somos educados. Se fôssemos ignorantes, talvez pudéssemos aceitar essas dificuldades. Mas nossa educação não deixa.”

Ah, se o dinheiro do mensalão e das sanguessugas fosse investido em educação, em construção de caráter, em preparo para o jovem encarar as demandas do mundo globalizado ao invés de receber “bolsa-esmola” para sobreviver e dizer amém aos pecados federais e aos fatos lastimáveis que parecem não ter fim no Brasil! Nunca que o presidente mais falastrão da “história desse país” seria reeleito com tantos escândalos e crescimento pífio da economia não fosse nossa falta de educação.

Quem compreende a situação da América Latina é culpado por ficar apenas observando! A história vai nos ferrar por isso! Quem com ferro a si mesmo fere...

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