segunda-feira, 29 de janeiro de 2007

A revolução de Calder




O engenheiro mecânico e escultor americano Alexander Calder foi, sem dúvida, um dos maiores artistas que o mundo já viu tanto em criatividade e vanguarda quanto em produção e sensibilidade. Na década de 20 foi a Paris e montou várias obras em arame, das quais Elephant de 1928; Goldfish Bowl de 29 e Medusa de 1930 são espetaculares. Nessa época ainda monta o Cirque Calder, no qual bonecos de arame eram manipulados por manivelas ou pequenos motores que os davam movimento e exatidão. Algum tempo depois, Calder começa a ficar insatisfeito com sua obra pois, a necessidade de ser manipulada pelo próprio artista ou por motores, resultava apenas em movimentos repetitivos e não denotava espontaneidade, naturalidade.

Depois de uma passagem pelo Brasil, Calder foi visitar seu amigo pintor Pieter Mondrian e viu o resultado de seu neoplasticismo que usava linhas e ângulos retos, as cores primárias amarelo, vermelho e azul e seus equivalentes negativos branco, cinza e preto. Calder olhou, pensou e disse: falta movimento. Foi para casa e usou sua extraordinária facilidade de criação para montar um móbile, que é uma forma abstrata colorida suspensa em presilhas dotadas de movimento, ou melhor, aquela estrutura pendurada cuja presença é quase inevitável nos berços de crianças e quartos de adolescentes. O nome móbile foi dado por um outro amigo, o artista plástico Marcel Duchamp. O móbile foi a revolução pela qual Calder ansiava. Criando objetos e esculturas usando cores primárias de caráter lúdico, o gênio mais parecia um menino-adulto cuja satisfação era brincar e ousar. Foi a partir do móbile que ele criou algo que antes nenhum outro escultor no mundo criara: a introdução do tempo no rígido e estável espaço da escultura; o movimento.

Movimento. Foi essa a palavra que regeu a vida de Calder. Todos os humanos precisamos e criamos movimento a todo instante. Já os movimentos sociais, buscam novas soluções e novos caminhos para os anseios da sociedade. Estes são qualificados, segundos os estudiosos como: comportamentos coletivos à procura de novas maneiras de viver e originam-se em um período de inquietação social organizando-se pela adoção de um objetivo comum. Por isso é que nos organizamos em clubes, igrejas, partidos políticos, corporações, comunidades etc.

As eleições, por exemplo, são um outro tipo de movimento de que se goza apenas na democracia. Ora, sendo um movimento de privilégio em uma sociedade livre, deveria ser visto e levado tão a sério como a nossa própria existência. As eleições podem gerar sofrimento ou alegria, avanço ou retrocesso, riqueza ou pobreza etc. Desafortunadamente, os políticos, os conservadores e os revolucionários brasileiros são completamente diferentes de Calder. Enquanto este sonhou – e conseguiu - ver a sua obra independente, com espontaneidade, sem movimentos repetitivos e sem precisarem ser manipulados, aqueles sonham em cada vez mais dominar a população segundo seus maquiavélicos interesses a fim de ter cada vez mais riqueza e poder. Assim criam apenas desgraça, pobreza, ressentimento, frustração, falta de perspectiva, tristeza, dependência, violência e morte.

Deus fez o homem a Sua imagem e semelhança e revolucionou sua criação que até então limitava-se a não raciocinar. Se o ser humano se desviou de Seus propósitos, essa é uma outra estória. Calder, sem segundas intenções, criou movimento. Deu “vida” as suas obras porque abriu mão de querer manipular, de querer dominar seus bonecos de arame, seus móbiles, suas esculturas. Por meio desse sentimento divino de liberdade, de livre arbítrio, o gênio revolucionou a arte e hoje suas obras estão espalhadas pelo mundo todo.

Quanto aos funestos políticos e aventureiros de plantão, lembro a frase por intermédio da qual o artista criou sua mais revolucionária peça, o móbile: “Falta movimento”. Falta dar “vida” a um povo que carece de atenção, que carece de seriedade, que carece de responsabilidade.

Infelizmente, Alexander Calder já se foi...

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