quarta-feira, 31 de janeiro de 2007

Os cães do socialismo pavloviano

O fisiologista russo Ivan P. Pavlov pesquisou as atribuições do condicionamento na psicologia do comportamento. Na década de 1920 estudava a salivação em cães expostos a diversos tipos de estímulos palatares. Percebeu que a salivação passava, com o tempo, a ocorrer por meio de estímulos e situações que até então nunca a haviam causado. Nascia a teoria do condicionamento clássico: respostas comportamentais são reflexos condicionados por situações agradáveis ou não. Repetindo-se tais situações pode-se criar ou remover respostas psicológicas em seres humanos ou animais.

George Philips, professor da London School of Economics e especialista em política latino-americana, falou a respeito da região em entrevista ao Estadão. Sobre os revolucionários das cavernas afirmou: “Apesar de Castro e Chávez pensarem diferentemente, a Guerra Fria acabou. A importância política de alguém como ele [Chávez] no mundo seria muito maior se ainda houvesse um governo socialista na União Soviética. Mas, como os grandes poderes abandonaram o socialismo, o fato de que alguns párias querem estatizar tudo não importa muito em termos mundiais.”

Philips concorda que há “um pequeno ditador” em Chávez. Compara o coronel aos líderes latinos mais conhecidos dos últimos 100 anos como Fidel Castro, Juan Perón e Getúlio Vargas. “Nenhum deles era um liberal democrata. Nenhum”. Sobre globalização, considerou que os anos 1980 foram um “desastre” e que na década de 1990 o desenvolvimento foi baixo, mas a inflação foi controlada disciplinando os países. Ressaltou nosso maior entrave: “O problema persiste sendo o capital humano na América Latina, onde a educação não é levada a sério como o é na Ásia. A relação do Estado com o setor privado não é eficiente, há corrupção. O serviço público - até um pouco mais meritocrático no Brasil - é paternalista e corrupto.”

Sobre a sedução que o ideário socialista ainda exerce nos latinos disse que para transformar a Venezuela em um país rico esse “não é o caminho”. Mas “infelizmente é o que os venezuelanos querem”. Pior são os países andinos “onde os conflitos sociais ainda não estão resolvidos a ponto de poder-se implantar uma democracia liberal”. Questionado se o problema seria racial afirmou: “O problema não é racial. O que ocorreu é que liberalismo e capitalismo se identificaram com a elite branca e aqueles que não gostam da elite culpam liberalismo e capitalismo pelos problemas de seus países.” Alguma semelhança com o Brasil bi-Lula pós-mensalão?

Pior: o revolucionário Chávez - que chamou Fidel Castro de César; ué, o imperialismo não está ao norte? – utilizou da via democrática para conquistar poderes ameaçadores à democracia e ao Estado de Direito. Sua Câmara de socialistas encoleirados aprovou projeto de lei que permite ao militar governar por decreto durante 18 meses. Outro que caminha nas botas de Chávez e Fidel, além, é claro, do colombiano Evo Morales, é o presidente do Equador Rafael Corrêa: quer a convocação de uma nova Constituinte.

Sobre a Venezuela, Philips afirmou: “parte das pessoas se sentiam abandonadas pelo sistema. O que fazia era redirecionar mais dinheiro para a elite. O que ele fez foi mais ou menos como encontrar um cachorro de rua faminto e alimentá-lo. Ele fica seu amigo para o resto da vida. Chávez alimentou os venezuelanos que tinham fome, agora eles são agradecidos”.

Eis a América Latina. Populações há anos abandonadas como cães sem dono por maus políticos. Estão sendo alimentadas com a ração ideológica dos neoditadores e aprisionadas no canil revolucionário neolítico. Os cães do socialismo pavloviano estão com seus rabos entre as pernas há décadas em Cuba. Venezuela, Colômbia e Equador abanam seus rabinhos às coleiras da retórica populista e antidemocrática.

Que os brasileiros parem de baixar as orelhas e comecem a mostrar os dentes...

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