Quem não se lembra dos Thundercats? Os gatos heróis de todas as tardes que combatiam o mal personificado na figura de Mun-rá, o “ser eterno”, até que eram simpáticos. Penso que o único ponto que ficava encoberto era o problema de que os vilões nunca sofriam punição e fugiam para mais tarde aterrorizar, pilhar e maltratar. Bem sei que esse não é o único desenho animado em que tal problema ocorre, mas essa é outra estória.
Certo dia o líder Lion, cansado de combater o mal na floresta, resolveu tirar umas féria e, heroicamente, decidiu aproveitar as maravilhas do Brasil e enfrentou o caríssimo turismo brasileiro. Decidido ir ao Nordeste, preferiu conhecer a Bahia, terra de todos os santos, de Jorge Amado e Gabriela Cravo e Canela.
Logo de chegada estranhou o novo nome do Aeroporto Dois de Julho, justa homenagem ao dia da independência baiana. Era... “alguma coisa” Magalhães. Tudo bem, o sobrenome é literalmente de peso e, além do mais, quem é que não gosta de homenagear alguém? Chegando ao Resort Lion se encantou com a Praia do forte, com o local paradisíaco, os coqueiros que lembraram aquela música: “esse coqueiro que dá coco”. Conheceu o Projeto Tamar! Lion gostou de tudo! Do vento, da areia branca, do acarajé, vatapá, da água de coco, apenas não aprovou a água do mar, mas, para um felino, deu pra entender o motivo.
Depois que desfrutou toda aquela maravilha, resolveu ir a Salvador a fim de conhecer a beleza vista na TV. Foi ao Farol da Barra, ao Forte de Montserrat, passeou pela orla marítima, Piatã, Placaford – a qual tem esse nome por causa de uma enorme placa que ali havia da montadora -, Ondina, Flamengo, Stelamaris, Ribeira, tomou o delicioso sorvete de morango e de mangaba da Perini, foi ao Jardim de Alá, foi ao Porto da Barra, Pituba. Foi ao Pelourinho, à Igreja de São Francisco, com seu pátio central todo decorado por azulejos portugueses e seu interior coberto por ouro puro. Muita riqueza! Viu os luxuosos hotéis Othon, Transamérica, Carlton e toda a beleza que já esperava encontrar.
Foi também à Ilha de Itaparica e comeu agulhinha, camarão, polvo e moqueca de arraia na Barraca do Horácio à beira do mar e ainda deixou uma gorjeta para o Hélcio, que o serviu com maestria. Voltou a cidade para ver uma exposição do escultor e desenhista francês, Henri Matisse, um dos principais artistas do Fauvismo, movimento caracterizado pelo emprego de cores puras, consideradas agressivas. Matisse nunca mais foi o mesmo depois que visitou o Marrocos e foi impactado pelas formas orientais, passando a dedicar-se à técnica de recorte e colagem. O artista preferia recortar a peça já pintada para trabalhar direto na cor a fazer um contorno para depois preenchê-lo com a tinta.
Inspirado pela arte vista no museu, contemplou a Bahia de todos os santos na descida da “contorno”. Conheceu o Forte de São Marcelo, o Mercado Modelo com seus freqüentadores exóticos e suas danças e cantigas africanas. Passou pela loja do “tio Manolo”, que fica entre as duas torres do elevador Lacerda, que, em piada, diz ser da época em que o cantor Genival Lacerda fora prefeito.
Que magnífico o elevador! Logo que entrou, Lion achou estranha a placa de objetos proibidos de serem transportados no Lacerda. Entre outros, estavam TVs, rádios, carrinho de mão, isopor e o mais curioso: explosivos(?!) e material r-a-d-i-o-a-t-i-v-o!?!? É medo de “Berimbau Atômico”, “Coco Radioativo”, “Acarajé de Urânio”, ou “Vatapá 137”? Será que é receio de acontecer algo como Goiânia ou Chernobyl? Dizem que “cachorro mordido por cobra tem medo de lingüiça”! Imagine você detido em Salvador por transporte de “Caruru Enriquecido”?! Êh, êh!
Mas foi ao pagar para subir até a parte alta da cidade pelo elevador que Lion teve um choque. O preço? Cinco. Cinco Reais? Não, cinco centavos!! Foi nesse momento que Lion percebeu algo de errado. Sacou de sua espada e disse: “Espada Justiceira dê-me a visão além do alcance”.
- Por Thundera! Exclamou nosso Felis Cattus. Naquele instante Lion pôde ver algo mais que o centro e os pontos turísticos “maquiados” pelos governantes. Viu a pobreza de Pau da Lima, de Fazenda Grande, da “Cidade Baixa”, a violência da Favela Cai Duro, Favela Calabar, Alagados, São Cristóvão, Itinga, Pau Miúdo, os pontos de tráfico, as prostitutas e travestis da Orla, os meninos de rua em frente ao shopping Iguatemi e muito mais. Lion viu também os “grandes políticos” que perambulam por Brasília feito almas penadas mas que sempre voltam para aterrorizar os soteropolitanos com suas falcatruas e desvios de verbas públicas. Viu o “Pai dos pobres” em sua mansão com aquele ar de Coronel tomando água de coco à beira da piscina com vista para o mar. Viu aqueles que militam contra o povo baiano carente de água encanada, luz, moradia, esgoto, saúde, educação, trabalho. Viu os mandatários de tanto horror que se abate sobre um povo que luta para sobreviver em meio à seca nordestina. Viu os que venderam a Copene para o grupo Odebrecht e que fazem negociatas milionárias.
Tudo isso Lion percebeu com a ajuda da espada, mas sabe que ela não pode dar a solução. Sabe que é por meios pacíficos e democráticos e não pela força e pelo sangue. Sabe que a maior punição vem pelas urnas e pela força da Lei. Nunca pela lei da força. Até mesmo porque Lion sabe que, assim como na floresta, os bandidos da civilização quase nunca são punidos e sempre voltam para barbarizar. Há de se promover urgentes mudanças.
Mun-Rá, o “ser eterno”, continua tão atuante que já faz parte da paisagem, das ruas, das escolas, dos viadutos, do aeroporto.
Lion... Herói... Justiceira... Justiça... Justo...
Certo dia o líder Lion, cansado de combater o mal na floresta, resolveu tirar umas féria e, heroicamente, decidiu aproveitar as maravilhas do Brasil e enfrentou o caríssimo turismo brasileiro. Decidido ir ao Nordeste, preferiu conhecer a Bahia, terra de todos os santos, de Jorge Amado e Gabriela Cravo e Canela.
Logo de chegada estranhou o novo nome do Aeroporto Dois de Julho, justa homenagem ao dia da independência baiana. Era... “alguma coisa” Magalhães. Tudo bem, o sobrenome é literalmente de peso e, além do mais, quem é que não gosta de homenagear alguém? Chegando ao Resort Lion se encantou com a Praia do forte, com o local paradisíaco, os coqueiros que lembraram aquela música: “esse coqueiro que dá coco”. Conheceu o Projeto Tamar! Lion gostou de tudo! Do vento, da areia branca, do acarajé, vatapá, da água de coco, apenas não aprovou a água do mar, mas, para um felino, deu pra entender o motivo.
Depois que desfrutou toda aquela maravilha, resolveu ir a Salvador a fim de conhecer a beleza vista na TV. Foi ao Farol da Barra, ao Forte de Montserrat, passeou pela orla marítima, Piatã, Placaford – a qual tem esse nome por causa de uma enorme placa que ali havia da montadora -, Ondina, Flamengo, Stelamaris, Ribeira, tomou o delicioso sorvete de morango e de mangaba da Perini, foi ao Jardim de Alá, foi ao Porto da Barra, Pituba. Foi ao Pelourinho, à Igreja de São Francisco, com seu pátio central todo decorado por azulejos portugueses e seu interior coberto por ouro puro. Muita riqueza! Viu os luxuosos hotéis Othon, Transamérica, Carlton e toda a beleza que já esperava encontrar.
Foi também à Ilha de Itaparica e comeu agulhinha, camarão, polvo e moqueca de arraia na Barraca do Horácio à beira do mar e ainda deixou uma gorjeta para o Hélcio, que o serviu com maestria. Voltou a cidade para ver uma exposição do escultor e desenhista francês, Henri Matisse, um dos principais artistas do Fauvismo, movimento caracterizado pelo emprego de cores puras, consideradas agressivas. Matisse nunca mais foi o mesmo depois que visitou o Marrocos e foi impactado pelas formas orientais, passando a dedicar-se à técnica de recorte e colagem. O artista preferia recortar a peça já pintada para trabalhar direto na cor a fazer um contorno para depois preenchê-lo com a tinta.
Inspirado pela arte vista no museu, contemplou a Bahia de todos os santos na descida da “contorno”. Conheceu o Forte de São Marcelo, o Mercado Modelo com seus freqüentadores exóticos e suas danças e cantigas africanas. Passou pela loja do “tio Manolo”, que fica entre as duas torres do elevador Lacerda, que, em piada, diz ser da época em que o cantor Genival Lacerda fora prefeito.
Que magnífico o elevador! Logo que entrou, Lion achou estranha a placa de objetos proibidos de serem transportados no Lacerda. Entre outros, estavam TVs, rádios, carrinho de mão, isopor e o mais curioso: explosivos(?!) e material r-a-d-i-o-a-t-i-v-o!?!? É medo de “Berimbau Atômico”, “Coco Radioativo”, “Acarajé de Urânio”, ou “Vatapá 137”? Será que é receio de acontecer algo como Goiânia ou Chernobyl? Dizem que “cachorro mordido por cobra tem medo de lingüiça”! Imagine você detido em Salvador por transporte de “Caruru Enriquecido”?! Êh, êh!
Mas foi ao pagar para subir até a parte alta da cidade pelo elevador que Lion teve um choque. O preço? Cinco. Cinco Reais? Não, cinco centavos!! Foi nesse momento que Lion percebeu algo de errado. Sacou de sua espada e disse: “Espada Justiceira dê-me a visão além do alcance”.
- Por Thundera! Exclamou nosso Felis Cattus. Naquele instante Lion pôde ver algo mais que o centro e os pontos turísticos “maquiados” pelos governantes. Viu a pobreza de Pau da Lima, de Fazenda Grande, da “Cidade Baixa”, a violência da Favela Cai Duro, Favela Calabar, Alagados, São Cristóvão, Itinga, Pau Miúdo, os pontos de tráfico, as prostitutas e travestis da Orla, os meninos de rua em frente ao shopping Iguatemi e muito mais. Lion viu também os “grandes políticos” que perambulam por Brasília feito almas penadas mas que sempre voltam para aterrorizar os soteropolitanos com suas falcatruas e desvios de verbas públicas. Viu o “Pai dos pobres” em sua mansão com aquele ar de Coronel tomando água de coco à beira da piscina com vista para o mar. Viu aqueles que militam contra o povo baiano carente de água encanada, luz, moradia, esgoto, saúde, educação, trabalho. Viu os mandatários de tanto horror que se abate sobre um povo que luta para sobreviver em meio à seca nordestina. Viu os que venderam a Copene para o grupo Odebrecht e que fazem negociatas milionárias.
Tudo isso Lion percebeu com a ajuda da espada, mas sabe que ela não pode dar a solução. Sabe que é por meios pacíficos e democráticos e não pela força e pelo sangue. Sabe que a maior punição vem pelas urnas e pela força da Lei. Nunca pela lei da força. Até mesmo porque Lion sabe que, assim como na floresta, os bandidos da civilização quase nunca são punidos e sempre voltam para barbarizar. Há de se promover urgentes mudanças.
Mun-Rá, o “ser eterno”, continua tão atuante que já faz parte da paisagem, das ruas, das escolas, dos viadutos, do aeroporto.
Lion... Herói... Justiceira... Justiça... Justo...
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