Quase todo santo vive a experiência do êxtase, a exaltação mística, uma espécie de pas-de-deux com o absoluto. Aliás, a idéia do êxtase é anterior ao próprio conceito de santidade: os gregos já davam esse nome ao estado daquele que se transporta para fora de si, criando assim um vazio a ser ocupado por Apolo e pelas Musas, se você é um poeta, ou por Dionisos, se você é um ator ou um pé de cana.
Não é preciso ser santo para experimentar pelo menos em parte a sensação do êxtase. Todos tivemos momentos semelhantes, alcançados sob a influência do vinho, ou durante os instantes de grande alegria. Ou no encantamento provocado pelo amor. Como se pode conferir neste poema, que se chama Iluminação e que diz:
Depois de outro verão em teus países baixos
Onde bailei funâmbulo e feliz
Enquanto as almas conversavam lá no alto
No cordame de Notre Dâme de L’Espoir,
A nau dos insensatos corações,
Me vi no céu sob um dossel de estrelas
Num carrossel de colombinas querubinas
E outros desses seres lá do Empíreo
E pensei: de duas, uma:
Ou os deuses te puseram por engano
À mercê de minhas maquinações
Ou sou um místico ainda irrevelado,
Um novo São João da Cruz,
E você é o meu Êxtase,
O resto são as drogas da estação.
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