sábado, 11 de abril de 2009

REVOLUCIONÁRIO DAS CAVERNAS

Hugo Chávez enfrenta o pragmatismo chinês

Le Monde

Faz anos que Hugo Chávez se engana sobre a forma como Pequim raciocina. O presidente venezuelano aproveitou um encontro com seu colega chinês Hu Jintao para proclamar em alto e bom som que a China havia se tornado o centro de gravidade do mundo, e que o "império" norte-americano havia afundado. Esse tipo de discurso fanfarrão teria agradado muito às autoridades chinesas alguns anos atrás; hoje, é um completo fracasso.

É claro, nos tempos de Mao, Chávez poderia ter ido a Pequim trocar tiradas revolucionárias com seus colegas da Coreia do Norte ou da Albânia. Naquela época, a ideologia muito particular do líder chinês estava acima de tudo, e o papel dos Estados Unidos era claramente o de inimigo.

Aliás, Chávez é no mínimo tão antiamericano hoje quanto Mao o era na sua época. Ele espera que, graças a Pequim, ele possa parar de vender a metade da produção petroleira de seu país aos Estados Unidos. Claro, a China tem grande sede de petróleo, mas é pouco realista pensar que ela possa substituir integralmente a demanda americana. Suas refinarias ainda não são bem equipadas para tratar o petróleo pesado e sulfuroso da Venezuela.

É possível que os dirigentes chineses atuais tenham as mesmas queixas de Chávez a respeito de certas escolhas americanas, sejam elas de ordem militar, política ou econômica, mas eles têm bons motivos para ficarem calados. Isso porque a China deve continuar a exportar para o maior mercado do mundo. O desenvolvimento do consumo doméstico permitiria compensar em parte os prejuízos, mas somente por algum tempo.

De qualquer forma, mesmo que a China, uma vez mais rica, venda um pouco menos de brinquedos e sapatos aos norte-americanos, os Estados Unidos continuariam sendo um escoadouro de primeira ordem para suas exportações de produtos de alta tecnologia, de automóveis e de marcas de luxo. O país conseguiu tirar milhões de pessoas da miséria mais profunda, mas o comércio exterior ainda é o único meio de desenvolver uma classe média mais abastada.

Outros tempos, outra política

Pequim não tem medo de lidar com países impopulares. Entre a comunidade internacional, a Venezuela é mais respeitável que alguns regimes amigos da China, como a República Democrática do Congo (RDC) ou o Irã. Mas a China segue uma lógica mais capitalista que política. A RDC contém jazidas de cobre e de cobalto. O Irã está sobre uma reserva de gás natural inexplorado que representa 8% dos recursos mundiais e que a China agora está autorizada a explorar.

O país também se aproveita da depressão dos mercados para conseguir todas as participações que puder no setor dos recursos naturais, o que mostra que as motivações de Pequim se baseiam no pragmatismo e no sentido de seu interesse. Nada em comum, portanto, com Chávez, cujas provocações são de outros tempos, assim como sua política.

Nenhum comentário: