quarta-feira, 22 de abril de 2009

SAUDADES DE TI, WALY...





Waly Salomão e aquela sua risada indecente, pertinente, incoerente se foi em 2003. Um poeta brasileiro filho de sírio com uma sertaneja. Uma figura sem igual. Um gênio!

Era final de copa do mundo, trio elétrico na avenida, quando Waly aparecia lá na TV Cultura de São Paulo: as palavras fluíam daquela boca que metralhava com metáforas nossas mentes; um liquidificador de palavras!

Seus livros: Me segura qu'eu vou dar um troço (1972); Algaravias (Poesias com as quais ganhou o prêmio Jabuti de literatura) e Pescados Vivos (2004), publicado após sua morte. Pena. As letras choraram órfãs...

Caetano Veloso, Adriana Calcanhoto, Gal Costa, Maria Bethânia foram alguns cantores que gravaram músicas de Waly; além de estar à frente de dois discos de Cássia Eller nos anos 1990.

Ao trabalhar com o então ministro da Cultura, Gilberto Gil, Waly propunha que fosse acrescentado um livro em cada cesta básica "nesse País". As cestas continuam "básicas"...

Waly fez uma letra sensacional com Lulu Santos, gravada pelos Paralamas do Sucesso - no mais puro estilo The Police - que é genialidade da copa à raiz:

"Assaltaram a Gramatica

Assassinaram a lógica

Meteram poesia na bagunça do dia-a-dia

Seqüestraram a fonética

Violentaram a métrica

Meteram poesia onde devia e não devia

Lá vem o poeta com sua coroa de louros, bertalha, agrião, pimentão, boldo!

O poeta é a pimenta do planeta! (Malagueta!)"



Um pouco mais da poesia de Waly:


"Eu faço versos

Como quem chora

De desalento

De desencanto

Fecho o meu livro

Se por agora

Não tens motivo

Nenhum de pranto

Meu verso é sangue

Volúpia ardente

Tristeza esparsa

Remorso vão

Dói-me nas veias

Amargo e quente

Cai gota

A gota
Do coração

E nestes versos

De angústia rouca

Assim dos lábios
A vida corre

Deixando um acre

Sabor na boca

Eu faço versos

Como quem morre."
Veja Waly declamando aqui na TV Cultura: http://www.youtube.com/watch?v=l4J91sAJOpY
Saudades de ti, Waly...

2 comentários:

RMM disse...

Não conheço a obra do Waly, massei que foi grande. O começo deste poema, em particular, lembra bastante aquele do Quintana: Eu faço versos como os saltimbancos ...
Acho que isto ocorre sem que que seja pecado, não é? Há uns dias comparando um poema do Nirto Venâncio e um do Leminski vi que eram muito parecidos com um antigo do Vinícius. Acho que é só uma releitura do mesmo pulso poético.
Um abraço.

RMM disse...

Desculpa insistir no assunto mas eu gostaria de reforçar o que eu disse antes sobre a "parescênia" de alguns poemas, achei o do Leminski que lembra o do Vinícius:

POÉTICA I - Vinícius de Moraes

De manhã escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo.
A oeste a morte
Contra quem vivo
Do sul cativo
O este é meu norte.
Outros que contem
Passo por passo:
Eu morro ontem
Nasço amanhã
Ando onde há espaço:
- Meu tempo é quando.

Profissão de Febre - Paulo Leminski

quando chove,
eu chovo,
faz sol,
eu faço,
de noite,
anoiteço,
tem deus,
eu rezo,
não tem,
esqueço,
chove de novo,
de novo, chovo,
assobio no vento,
daqui me vejo,
lá vou eu,
gesto no movimento