Waly Salomão e aquela sua risada indecente, pertinente, incoerente se foi em 2003. Um poeta brasileiro filho de sírio com uma sertaneja. Uma figura sem igual. Um gênio!
Meu verso é sangue
E nestes versos
Era final de copa do mundo, trio elétrico na avenida, quando Waly aparecia lá na TV Cultura de São Paulo: as palavras fluíam daquela boca que metralhava com metáforas nossas mentes; um liquidificador de palavras!
Seus livros: Me segura qu'eu vou dar um troço (1972); Algaravias (Poesias com as quais ganhou o prêmio Jabuti de literatura) e Pescados Vivos (2004), publicado após sua morte. Pena. As letras choraram órfãs...
Caetano Veloso, Adriana Calcanhoto, Gal Costa, Maria Bethânia foram alguns cantores que gravaram músicas de Waly; além de estar à frente de dois discos de Cássia Eller nos anos 1990.
Ao trabalhar com o então ministro da Cultura, Gilberto Gil, Waly propunha que fosse acrescentado um livro em cada cesta básica "nesse País". As cestas continuam "básicas"...
Waly fez uma letra sensacional com Lulu Santos, gravada pelos Paralamas do Sucesso - no mais puro estilo The Police - que é genialidade da copa à raiz:
"Assaltaram a Gramatica
Assassinaram a lógica
Meteram poesia na bagunça do dia-a-dia
Seqüestraram a fonética
Violentaram a métrica
Meteram poesia onde devia e não devia
Lá vem o poeta com sua coroa de louros, bertalha, agrião, pimentão, boldo!
O poeta é a pimenta do planeta! (Malagueta!)"
Ouça aqui: http://www.youtube.com/watch?v=SryMUvKTgxE
Um pouco mais da poesia de Waly:
"Eu faço versos
Como quem chora
De desalento
De desencanto
Fecho o meu livro
Se por agora
Não tens motivo
Nenhum de pranto
Meu verso é sangue
Volúpia ardente
Tristeza esparsa
Remorso vão
Dói-me nas veias
Amargo e quente
Cai gota
A gota
Do coração
E nestes versos
De angústia rouca
Assim dos lábios
A vida corre
Deixando um acre
Sabor na boca
Eu faço versos
Como quem morre."
Veja Waly declamando aqui na TV Cultura: http://www.youtube.com/watch?v=l4J91sAJOpY
Saudades de ti, Waly...
2 comentários:
Não conheço a obra do Waly, massei que foi grande. O começo deste poema, em particular, lembra bastante aquele do Quintana: Eu faço versos como os saltimbancos ...
Acho que isto ocorre sem que que seja pecado, não é? Há uns dias comparando um poema do Nirto Venâncio e um do Leminski vi que eram muito parecidos com um antigo do Vinícius. Acho que é só uma releitura do mesmo pulso poético.
Um abraço.
Desculpa insistir no assunto mas eu gostaria de reforçar o que eu disse antes sobre a "parescênia" de alguns poemas, achei o do Leminski que lembra o do Vinícius:
POÉTICA I - Vinícius de Moraes
De manhã escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo.
A oeste a morte
Contra quem vivo
Do sul cativo
O este é meu norte.
Outros que contem
Passo por passo:
Eu morro ontem
Nasço amanhã
Ando onde há espaço:
- Meu tempo é quando.
Profissão de Febre - Paulo Leminski
quando chove,
eu chovo,
faz sol,
eu faço,
de noite,
anoiteço,
tem deus,
eu rezo,
não tem,
esqueço,
chove de novo,
de novo, chovo,
assobio no vento,
daqui me vejo,
lá vou eu,
gesto no movimento
Postar um comentário