sexta-feira, 3 de abril de 2009

DINHEIRO NA MÃO É VENDAVAL...

Lula: ‘Não é chique emprestar dinheiro para o FMI?’


Houve um tempo em que o Brasil só mandava para o FMI cartas de intenções.

Boas intenções. Mas mentirosas. Desconfiado, o Fundo mandava a Brasília uma espiã.

Os mais jovens a desconhecem. Os mais velhos já nem se lembram.

Era uma senhora espigada. Chamava-se Ana Maria Jul. Onde andará?

Ela corria os olhos pelas contas públicas, aviava a receita e ia embora.

Recomendava dietas pesadas, que faziam murchar a economia.

Era como se o FMI dissesse ao Brasil: suicide-se que eu te ajudo.

Nessa época, ora como sindicalista ora como político, Lula dirigia increpações ao Fundo.

Agora, acolhido pela tribo dos “peles brancas de olhos azuis”, Lula é outro homem.

Ele recorda: "Em minha juventude, carreguei faixas em São Paulo. Diziam 'fora, FMI'”.

Sob sua presidência, o Brasil não quer mais “se comportar como um país pequeno".

Prepara-se para enviar ao FMI não uma carta, mas um punhado de dinheiro.

Em nome da Viúva, Lula prometeu no G20 participar da vaquinha de US$ 1 trilhão.

E o fez com uma ponta de satisfação. Falando aos repórter, pespegou:

"Vocês não acham chique emprestar dinheiro para o FMI? O Brasil hoje tem solidez".

Qual será o valor da cota brasileira? Não se sabe, ainda.

O ministro Guido Mantega disse que a cifra será revelada nos “próximos dias”.

Por ora, sabe-se apenas que a grana vai na forma de empréstimo.

Por quê? Para que não caiam as reservas internacionais, hoje em US$ 200 bilhões.

Não se pode dizer que o Brasil tenha subido ao Primeiro Mundo.

Mas já dá para afirmar que os países ricos tanto fizeram que desceram até o Brasil.

Não deixa de ser uma forma de aproximação!

O Brasil ainda não entrou para o clube, mas já é alvo de gentilezas do ex-império.

Escrito por Josias de Souza
http://josiasdesouza.folha.blog.uol.com.br/

Um comentário:

Anônimo disse...

Faltou mostrar o papel real do FMI

Por Rolf Kuntz em 7/4/2009


Os chefes de governo do Grupo dos 20 (G-20), formado pelas maiores economias desenvolvidas e em desenvolvimento, decidiram triplicar o dinheiro disponível para o Fundo Monetário Internacional (FMI) e encarregar a instituição, juntamente com o Conselho de Estabilidade Financeira, de acompanhar os mercados e fazer soar o alarme em caso de perigo.

Tudo isso apareceu nos jornais, na ampla cobertura da reunião de cúpula realizada em Londres, no dia 2 de abril. Faltou contar um pedaço importante da história: o papel do próprio FMI na montagem desse esquema.

Na cobertura, o Fundo aparece como objeto de uma decisão importante e como agente encarregado de cumprir três missões – conter o alastramento da crise, atenuar seus efeitos e participar da supervisão do mercado financeiro. Tudo isso é relevante, mas um dado político foi negligenciado. Não se mostrou a participação do diretor-gerente do FMI, o francês Dominique Strauss-Kahn, na costura do arranjo final.

Esse dado não é um simples detalhe divertido ou curioso. É uma informação relevante: os burocratas do FMI, comandados por Strauss-Kahn, vinham preparando a instituição para um novo e grande papel na economia globalizada. O esforço havia começado antes, na gestão do espanhol Rodrigo de Rato, e intensificou-se na administração, diplomaticamente mais hábil, de Strauss-Kahn.

Acompanhamento e alerta

Em outubro do ano passado, na assembléia anual, o Comitê Monetário e Financeiro, formado por 24 representantes dos 185 países membros, decidiu atribuir à instituição um papel central no monitoramento dos mercados. A decisão não seria tomada sem a concordância dos sócios mais poderosos, a começar pelos Estados Unidos, mas o projeto foi concebido, no essencial, pela própria burocracia do Fundo.

Também era evidente, nessa altura, a urgência de captação de mais dinheiro para o socorro aos sócios em dificuldades. A Islândia foi o primeiro caso importante, mas a fila cresceu e logo foi preciso socorrer – também isso era previsto – várias economias do Leste europeu.

Strauss-Kahn passou meses trabalhando pelo aumento do capital disponível e falou sobre o assunto, publicamente, em várias ocasiões. Quantas vezes terá conversado reservadamente com ministros e chefes de governo sobre o assunto?

Que ele se tenha mantido discreto, em Londres, é compreensível. O espetáculo havia sido programado para outros astros. Mas teria valido a pena dar um pouco mais de atenção a esse coadjuvante não tão secundário nessa história. Afinal, não houve de fato acordo sobre a fixação de regras internacionais para o mercado, porque o governo americano continuou resistindo. Sobrou, no plano internacional, a tarefa de acompanhamento e alerta. O trabalho sobrou para quem tem condições de realizá-lo, mas faltou acentuar esse ponto.

Real e yuan

Os jornais dedicaram bom espaço à conversa sobre a substituição do dólar como principal moeda de reserva. A discussão foi aberta há algumas semanas pelo governo chinês. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva parece ter-se entusiasmado pela idéia. Em Londres, ele propôs ao presidente da China, Hu Jintao, a adoção das moedas nacionais no comércio bilateral. O governante chinês não respondeu. Marcou a continuação da conversa para maio, durante a visita de Lula a Pequim.

O entusiasmo de Lula não foi bem explicado e não houve grande esforço de esclarecimento da questão. Só a Folha de S.Paulo tentou ir mais fundo, procurando especialistas em comércio exterior, mostrando o uso ainda limitado desse tipo de pagamento no comércio com a Argentina e reproduzindo as críticas de especialistas.

Além disso, a Folha e o Estado de S.Paulo reproduziram artigo de Paul Krugman sobre o motivo do governo chinês para propor uma nova moeda de reserva: 70% dos ativos internacionais do banco central da China (equivalentes a US$ 2 trilhões, no total) são denominados em dólar.

Neomédios e neopobres

Matérias para deprimir e para animar no Estado de S.Paulo e do Globo do primeiro domingo de abril, dia 5. "Crise devolve 563 mil às classes D e E", segundo o Estadão. "Nova classe média quer manter gastos", de acordo com o Globo.

A matéria sobre o empobrecimento é baseada em cálculos do pesquisador Marcelo Néri, da Fundação Getúlio Vargas. Em janeiro, segundo o estudo, a classe C, em expansão há alguns anos, encolheu nas seis maiores áreas metropolitanas do país. O agravamento do quadro, segundo o economista, parece haver-se estancado em fevereiro,

A matéria do Globo mostra a persistência dos hábitos de consumo na classe C depois do desembarque da crise no Brasil. Mas a matéria se baseia numa pesquisa realizada entre setembro e novembro, quando apenas começavam a ser percebidos, no Brasil, os impactos da recessão no mundo rico. A pesquisa recente de Marcelo Néri é citada apenas no último parágrafo da reportagem.

http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=532IMQ004