Movimentos inflam números de acampados com "sem-terra de fim de semana"
CRISTIANO MACHADO
da Agência Folha, em Presidente Epitácio e Regente Feijó
Na região de maior conflito agrário de São Paulo, o Pontal do Paranapanema (oeste do Estado), movimentos usam "sem-terra de fim de semana" para engrossar suas fileiras nas invasões de fazendas e protestos pela reforma agrária.
Muitos dos "acampados" vivem em casas (de aluguel ou até mesmo próprias) na zona urbana das cidades e visitam os barracos apenas nos finais de semana para participar de assembléias --nas quais a presença é obrigatória-- ou na data da distribuição de cestas básicas cedidas pelo governo federal.
Nos acampamentos, essas pessoas são chamadas de "andorinhas", porque, segundo alguns sem-terra ouvidos pela reportagem, surgem "como numa revoada" e pouco tempo depois deixam o local.
Apesar de não existirem dados sobre a quantidade desse tipo de sem-terra, os próprios grupos admitem o fato e afirmam tolerar a prática.
No último dia 2 de abril a Folha visitou três acampamentos em dois municípios do Pontal. São inúmeros os relatos sobre a atuação dos "andorinhas".
Nessas cidades, a reportagem encontrou quatro pessoas que admitiram ser sem-terra por alguns dias --uma delas é coordenadora do MLST (Movimento pela Libertação dos Sem Terra) no Pontal.
A Folha apurou que o sem-terra esporádico é aceito pelos movimentos para não evidenciar o esvaziamento dos grupos, afetados por dois motivos: adesão aos programas assistenciais do governo federal, como o Bolsa Família, e oferta de trabalho nos canaviais.
Em novembro, a Folha publicou levantamento baseado em dados do Ministério do Desenvolvimento Social e da CPT (Comissão Pastoral da Terra) que apontou o Bolsa Família como determinante para o esvaziamento dos movimentos sem-terra durante o primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Nesse período, o número de famílias acampadas sofreu redução de 82,6% _em 2003 eram 59.082; em 2006, 10.259.
Já o corte da cana empregou só no ano passado, no Pontal, 3.000 trabalhadores, segundo o sindicato da categoria.
Com mais gente recrutada, os grupos podem intensificar os protestos e a reivindicação de benefícios do governo, como cestas de alimentos.
Da casa para o barraco
Sob a condição de não ser identificado, um homem de 45 anos, morador na periferia de Presidente Epitácio (655 km de SP), disse possuir, há quatro anos, um barraco no acampamento Jahir Ribeiro, que foi criado em 2003 às margens de uma rodovia vicinal do município e que chegou a reunir até 4.000 famílias acampadas.
Hoje o acampamento, propagado pelo MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) como o maior do país e um dos maiores do mundo, é o retrato do abandono _apenas 22 famílias do MST e MLST vivem, de fato, na área.
Nos finais de semana, a presença nas assembléias eleva o número de "moradores" para 70, dizem os próprios acampados. O "andorinha" ouvido pela reportagem afirma que viveu em barraco um ano e meio, até se mudar para uma "casinha de aluguel" de R$ 180 mensais.
Ele disse que trabalha de "servente de pedreiro a piloteiro de barco", uma espécie de guia de pesca.
Ainda em Presidente Epitácio, outro "andorinha" de 39 anos disse que trabalha num frigorífico, mora com a mãe e dois irmãos numa casa na zona urbana, mas também possui um barraco no Jahir Ribeiro.
Ele afirmou que "marca presença" no acampamento quando não está trabalhando.
Outro "andorinha" foi localizado num acampamento do Mast (Movimento dos Agricultores Sem Terra) em Regente Feijó (556 km a oeste de SP).
Aos 50 anos, o homem se identificou apenas como Airton e disse ser agricultor, estar cadastrado no movimento e possuir seu barraco, mas mora com a mulher e dois filhos na área urbana do município.
"Saio cedo de casa para trabalhar e volto à noite, mas estou junto com o movimento na luta pela terra", disse ele.
Como a organização dos acampamentos depende exclusivamente dos movimentos agrários, a questão dos "sem-terra de fim de semana" não é contemplada nas normas de seleção para assentamento dos governos federal e estadual.
CRISTIANO MACHADO
da Agência Folha, em Presidente Epitácio e Regente Feijó
Na região de maior conflito agrário de São Paulo, o Pontal do Paranapanema (oeste do Estado), movimentos usam "sem-terra de fim de semana" para engrossar suas fileiras nas invasões de fazendas e protestos pela reforma agrária.
Muitos dos "acampados" vivem em casas (de aluguel ou até mesmo próprias) na zona urbana das cidades e visitam os barracos apenas nos finais de semana para participar de assembléias --nas quais a presença é obrigatória-- ou na data da distribuição de cestas básicas cedidas pelo governo federal.
Nos acampamentos, essas pessoas são chamadas de "andorinhas", porque, segundo alguns sem-terra ouvidos pela reportagem, surgem "como numa revoada" e pouco tempo depois deixam o local.
Apesar de não existirem dados sobre a quantidade desse tipo de sem-terra, os próprios grupos admitem o fato e afirmam tolerar a prática.
No último dia 2 de abril a Folha visitou três acampamentos em dois municípios do Pontal. São inúmeros os relatos sobre a atuação dos "andorinhas".
Nessas cidades, a reportagem encontrou quatro pessoas que admitiram ser sem-terra por alguns dias --uma delas é coordenadora do MLST (Movimento pela Libertação dos Sem Terra) no Pontal.
A Folha apurou que o sem-terra esporádico é aceito pelos movimentos para não evidenciar o esvaziamento dos grupos, afetados por dois motivos: adesão aos programas assistenciais do governo federal, como o Bolsa Família, e oferta de trabalho nos canaviais.
Em novembro, a Folha publicou levantamento baseado em dados do Ministério do Desenvolvimento Social e da CPT (Comissão Pastoral da Terra) que apontou o Bolsa Família como determinante para o esvaziamento dos movimentos sem-terra durante o primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Nesse período, o número de famílias acampadas sofreu redução de 82,6% _em 2003 eram 59.082; em 2006, 10.259.
Já o corte da cana empregou só no ano passado, no Pontal, 3.000 trabalhadores, segundo o sindicato da categoria.
Com mais gente recrutada, os grupos podem intensificar os protestos e a reivindicação de benefícios do governo, como cestas de alimentos.
Da casa para o barraco
Sob a condição de não ser identificado, um homem de 45 anos, morador na periferia de Presidente Epitácio (655 km de SP), disse possuir, há quatro anos, um barraco no acampamento Jahir Ribeiro, que foi criado em 2003 às margens de uma rodovia vicinal do município e que chegou a reunir até 4.000 famílias acampadas.
Hoje o acampamento, propagado pelo MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) como o maior do país e um dos maiores do mundo, é o retrato do abandono _apenas 22 famílias do MST e MLST vivem, de fato, na área.
Nos finais de semana, a presença nas assembléias eleva o número de "moradores" para 70, dizem os próprios acampados. O "andorinha" ouvido pela reportagem afirma que viveu em barraco um ano e meio, até se mudar para uma "casinha de aluguel" de R$ 180 mensais.
Ele disse que trabalha de "servente de pedreiro a piloteiro de barco", uma espécie de guia de pesca.
Ainda em Presidente Epitácio, outro "andorinha" de 39 anos disse que trabalha num frigorífico, mora com a mãe e dois irmãos numa casa na zona urbana, mas também possui um barraco no Jahir Ribeiro.
Ele afirmou que "marca presença" no acampamento quando não está trabalhando.
Outro "andorinha" foi localizado num acampamento do Mast (Movimento dos Agricultores Sem Terra) em Regente Feijó (556 km a oeste de SP).
Aos 50 anos, o homem se identificou apenas como Airton e disse ser agricultor, estar cadastrado no movimento e possuir seu barraco, mas mora com a mulher e dois filhos na área urbana do município.
"Saio cedo de casa para trabalhar e volto à noite, mas estou junto com o movimento na luta pela terra", disse ele.
Como a organização dos acampamentos depende exclusivamente dos movimentos agrários, a questão dos "sem-terra de fim de semana" não é contemplada nas normas de seleção para assentamento dos governos federal e estadual.
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