sexta-feira, 11 de abril de 2008

"TENDÊNCIA HEGEMONISTA DO PT"


Trinca de mulheres esquerdistas inverte estratégias na eleição de Porto Alegre

Léo Gerchmann
Especial para o UOL
Em Porto Alegre


Situações iguais mas invertidas, como o reflexo de um espelho. Esse contexto histórico peculiar é a realidade eleitoral que Porto Alegre começa a viver neste início de campanha pela prefeitura.

Se desde 1992 as eleições na capital gaúcha se caracterizaram por haver um candidato petista de situação contra diversos oponentes ditos "anti-PT" pulverizados no primeiro turno e unidos no segundo, desta vez ocorre o mesmo, só que inversamente.

O prefeito, eleito pelo PPS mas transferido de mala e cuia para o PMDB, é José Fogaça. Contra ele, desponta uma trinca de mulheres esquerdistas críticas à atual administração municipal: as deputadas federais Luciana Genro (PSOL), Manuela D'Ávila (PC do B) e Maria do Rosário (PT).

Como nas eleições anteriores, nesta também a tendência é de os adversários do prefeito de turno -no caso, as três esquerdistas- se unirem, nem que seja informalmente, em um segundo turno contra Fogaça.

Todos os candidatos evitam posições claras a respeito de um provável segundo turno em Porto Alegre. Motivos não faltam. O principal: não é descartada, apesar de difícil, a possibilidade de duas esquerdistas deixarem Fogaça para trás no primeiro turno (o que resultaria na busca pelo seu apoio). Portanto, cautela é palavra-chave.

Em relação ao eleitorado, porém, esse tipo de limitação estratégica não funciona. Pesquisa Ibope realizada entre os dias 30 de março e 2 de abril, sob encomenda do Grupo RBS, mostra Fogaça em uma leve liderança no primeiro turno contra Rosário e Manuela. No segundo turno, Rosário e Manuela viram o quadro e assumem elas a tênue vantagem. Sinal de que os votos das esquerdistas que sobrarem devem ser transferidos, em sua maioria, para a adversária de Fogaça em um eventual segundo turno.

O Ibope mostra, em três cenários de primeiro turno, Fogaça em primeiro lugar com 25 pontos (oscila para 26 quando a candidata Mônica Leal, improvável candidata pelo PP, sai da disputa, assim como os candidatos do PDT). A vice-liderança é ocupada por Rosário em todos os cenários, com variação entre 20 e 21 pontos percentuais -neste caso, também, quando saem o PP e o PDT. Em terceiro, Manuela, com entre 17 e 18. Luciana permanece em um ainda distante quarto lugar, sempre com nove pontos.

No segundo turno, os cenários são: Manuela 44 x 39 Fogaça; Rosário 43 x 40 Fogaça; Fogaça 43 x 36 Luciana; Fogaça 46 x 24 Onyx Lorenzoni (DEM); Fogaça 49 x 24 Vieira da Cunha (PDT); Fogaça 49 x 23 José Fortunati (PDT); Fogaça 49 x 19 Mônica Leal; e Fogaça 51 x 17 Nelson Marchezan Júnio. A margem de erro é de quatro pontos para mais ou menos.

Incapacidade petista

O cientista político Benedito Tadeu César, professor de graduação e pós-graduação da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), acredita que ocorre mesmo um "espelho" na eleição de Porto Alegre.

Faz, porém, uma ressalva: os partidos do dito campo conservador se fragmentavam com o objetivo claro de fazer uma frente anti-PT. No caso atual da esquerda, ocorre a mesma coisa, mas motivada por outros elementos, aleatórios a qualquer estratégia deliberada.
"Essa fragmentação da esquerda em Porto Alegre se deve à incapacidade e à tendência hegemonista do PT, que não preserva os aliados``, diz ele.

"Até em virtude dos conflitos internos, como foi o caso da prévia desgastante ocorrida neste ano, o PT tem dificuldade de dar espaço para os aliados na sua chapa majoritária. Isso favorece a fragmentação.``

Histórico

Depois da retomada do processo democrático, com o retorno das eleições diretas para cargos executivos após o regime militar (1964-85), a eleição de 1988 não teve segundo turno. O eleito foi Olívio Dutra (PT), em uma vitória surpreendente para a época, que desencadeou um período de 16 anos seguidos de administrações petistas na capital gaúcha e de ferrenha oposição por parte dos outros partidos.

O candidato do PT para suceder Olívio, em 1992, foi seu vice, o atual ministro (Justiça) Tarso Genro. No primeiro turno, Tarso, com uma coligação que incluía PT, PPS, PSB, PV e PCB, derrotou os adversários Cezar Schirmer (PMDB), Carlos Araujo (PDT), Valdir Fraga (PTB), Jarbas Lima (PDS -atual PP-), Mercedes Rodrigues (PSDB), Onyx Lorenzoni (PL-PDC), Carlos Gomes (PRN), João Signorini (PSC) e João Rocha (PST). No segundo turno, Tarso enfrentou os adversários unidos, mas derrotou Schirmer.

Em 1996, Raul Pont (PT-PCB-PPS) foi eleito já em primeiro turno, contra Yeda Crusius (PSDB), Maria do Carmo (PPB, atual PP), Vieira da Cunha (PDT), Paulo Odone (PMDB), Valdir Fraga (PTB), Luiz Negrinho (PST), Antonio Furtado Maciel (Prona), Maria Augusta Feldman (PSB), Léo Meira (PRP), Julio Flores (PSTU) e Temperani Pereira Júnior (PAN).

Em 2000, Tarso (PT-PCB-PSB-PC do B) voltou à prefeitura derrotando, no segundo turno, Alceu Collares (PDT). No primeiro turno, além de Collares, enfrentou Yeda Crusius (PSDB), Germano Bonow (PFL -atual DEM), Cézar Busatto (PMDB), Nélson Vasconcelos (PV), Valter Nagelstein (PPS), Julio Flores (PSTU), Luiz Carlos Olinto Martins (Prona), Lacerda (PRTB) e Guilherme Giordano (PCO).

A hegemonia petista se encerrou em 2004, quando Fogaça (PPS-PTB) reuniu todo o bloco antipetista no segundo turno para derrotar Raul Pont (PT-PSL-PTN-PCB-PL-PMN-PC do B).

Os outros participantes da eleição de primeiro turno foram Onyx Lorenzoni (PFL -atual DEM-), Vieira da cunha (PDT), Mendes Ribeiro Filho (PMDB), Jair Soares (PP), Beto Albuquerque (PSB), Vera Guasso (PSTU) e Guilherme Giordano (PCO).

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