GABRIELA GUERREIRO
da Folha Online, em Brasília
O governo federal gastou mais de R$ 5 milhões com cartões corporativos, nos finais de semana, entre os anos de 2002 e 2008. A ex-ministra Matilde Ribeiro (Igualdade Racial) foi a campeã no uso dos cartões aos sábados e domingos, seguida pelo reitor da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), Ulysses Fagundes Neto. Levantamento realizado pelo deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP), sub-relator de sistematização da CPI dos Cartões Corporativos, mostra que a ex-ministra gastou R$ 51,2 mil com os cartões nos finais de semana ao longo de quase seis anos em que ficou no governo.
Os gastos não podem ser apontados como irregulares, mas Sampaio considerou "estranho" que tamanho montante tenha sido usado aos finais de semana --quando teoricamente as autoridades e funcionários públicos não executam funções de trabalho.
"Não significa que sejam gastos irregulares, mas não são gastos normais. A utilização normal dos cartões é de segunda a sexta-feira, são bens e serviços adquiridos dentro de períodos de trabalho", disse o deputado.
O levantamento mostra que Matilde usou o cartão nos sábados e domingos para gastos em restaurantes, hotéis e aluguéis de carros. Já o reitor da Unifesp também executou despesas com restaurantes, free shop, farmácia e hotéis aos sábados e domingos. O terceiro no ranking de gastos com cartões aos finais de semana é Afonso Ribeiro, servidor do Instituto Nacional de Metrologia, com o total de R$ 21,2 mil.
Os três realizaram pagamentos com os cartões, mas não aparecem no ranking dos campeões de saques com cartões corporativos no final de semana. O servidor da Agência de Telecomunicações do Amazonas, João Belmiro Serra, sacou o total de R$ 21,1 mil ao longo de sete anos, seguido por Carlos Moreira, do Distrito de Meteorologia de Belém (PA) --que contabilizou saques de R$ 12,8 mil sempre aos sábado e domingos. O terceiro servidor que mais executou saques nos finais de semana foi Raimundo Silva, da Superintendência do Trabalho do Pará, que sacou R$ 11,8 mil.
Sampaio decidiu dar início à organização dos dados da CPI pelos finais de semana porque considera que os gastos nesse período são "atípicos". O deputado vai encaminhar os dados ao deputado Índio da Costa (DEM-PA), sub-relator de fiscalização de gastos, para investigar se houve irregularidades nas despesas efetuadas nos finais de semana.
"Eu apresento e organizo os dados, mas quem vai investigá-los é o deputado Índio", afirmou Sampaio. O deputado disse que, agora, vai selecionar outros gastos do governo baseado em critérios que facilitem a análise da CPI --como os saques realizados pela Presidência da República.
"Vamos pegar outros critérios que sejam factíveis para o relator fazer o seu estudo. Levantamos os gastos para que o relator e os sub-relatores tenham elementos para investigá-los", afirmou.
Sigilosos
O deputado disse que já encontrou irregularidades nos gastos sigilosos do governo federal com os cartões, que estão sob análise de um grupo de parlamentares da CPI no TCU (Tribunal de Contas da União). Como os dados são mantidos sob sigilo, Sampaio não revelou as irregularidades já descobertas pela comissão.
O deputado disse, apenas, que surgiram gastos "exóticos" que normalmente não seriam executados com cartões corporativos. "Há gastos irregulares, graves, e em alguns casos a Presidência da República não adotou providências no TCU e reincidiu no seu erro", afirmou.
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