Não é só uma questão de transparência nos gastos públicos, e sim uma questão de princípio, da natureza da função pública. O pior é que casos assim são cada vez mais freqüentes e desgastam cada vez mais a função pública.
O governador do Ceará, Cid Gomes, diz que não provocou despesa extra ao estado, porque o vôo é cobrado por quilômetro, e não por poltrona. Em um estado em que metade das famílias tem renda per capita de meio salário-mínimo, o que se esperava de uma viagem ao exterior é que, primeiro, fosse essencial. Segundo, que gerasse o menor gasto possível.
Se viajassem o governador, o assessor e o secretário em vôo regular, como há de Fortaleza para Lisboa, e de lá fossem aos cinco países visitados, as passagens custariam R$ 20 mil. Mais as três diárias, pouco mais de R$ 18 mil. Total: exatos 10% do que custou apenas o aluguel do jatinho, necessário para poder levar todo mundo.
O governador também alegou que, pelo menos, dez empresas do Ceará usam jatos para seus executivos. Mas o dinheiro é delas, governador, não é dinheiro do povo. Fica difícil chegar a uma democracia respeitável quando governantes não entendem a diferença entre o público e o privado.
A função pública é uma função de altruísmo. Não é uma função de desfrute, mas de sacrifício. A viagem para fora do país não é a primeira. No ano passado, ele foi a Washigton de jatinho e voltou com parada na Ilha de Saint Martin, no Caribe. E não será a última: a assembléia já lhe deu autorização prévia para viajar o quanto quiser o ano todo.
Dos 46 deputados, 44 apóiam o governador. Quando não há oposição, não há democracia. E prejudica o próprio governante, porque a crítica ajuda a evitar o erro.
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