segunda-feira, 28 de abril de 2008

CARUNCHOS DO MESMO FEIJÃO


PT vai se coligar com PSDB em 200 cidades

SIMONE IGLESIAS
RANIER BRAGON
da Folha de S.Paulo, em Brasília

Inimigos no plano nacional, PT e PSDB vão tentar se coligar em cerca de 200 cidades do país nas eleições de outubro, apesar do veto dado na quinta-feira pela Executiva Nacional petista à aliança em Belo Horizonte, sexta maior cidade do país.

Impulsionados por particularidades locais, tucanos e petistas tendem a ampliar a parceria em relação a 2004, quando patrocinaram dobradinhas em 121 municípios --pequenos, em sua maioria--, tendo vencido em 44% deles.

"Cada caso é um caso e vamos estudá-los à luz das conjunturas locais, estaduais e nacional. A decisão sobre Belo Horizonte não cria jurisprudência para nada, mas é claro que alguém pode apelar para isso", disse o presidente nacional do PT, Ricardo Berzoini.

Na linha do "cada caso é um caso", os dirigentes petistas não querem se comprometer com o veto da Executiva Nacional em cidades sem a dimensão nacional de Belo Horizonte.

Em 2004, o maior município que assistiu à união entre o PT e o PSDB foi Anápolis (GO), o 70º maior do país. No segundo turno, a chapa petista-tucana foi derrotada pelo PSB.

Agora, há conversas em estágios variados em cidades como Aracaju (35ª maior do país), a mineira Juiz de Fora (36ª) e a gaúcha Pelotas (65ª).

"Nas cidades menores, o que prevalece é a questão paroquial. Como os pedidos de aliança em grandes e médias cidades são quase inexistentes, não existe constrangimento", diz o deputado federal Rodrigo de Castro (MG), coordenador nacional no PSDB das eleições.

Campeão

Devido à tentativa do governador Aécio Neves (PSDB) e do prefeito Fernando Pimentel (PT) de patrocinar candidatura conjunta em Belo Horizonte, Minas deve ser o Estado campeão de solicitações de aliança entre PT e PSDB, segundo estimativa do secretário nacional de Assuntos Institucionais do PT, Romênio Pereira.

Segundo ele, são aproximadamente 60. Na cidade histórica de Ouro Preto, por exemplo, o PSDB pode encabeçar a chapa que teria o PT como vice. Em Congonhas (78 km de Belo Horizonte) e Guapé (281 km de Belo Horizonte), os dois partidos também buscam uma dobradinha, nesse caso com o PT concorrendo a prefeito.

Em Juiz de Fora (272 km de BH), petistas e tucanos aguardam os desdobramentos em Belo Horizonte. "A candidatura própria do PT aqui tem uma convergência muito grande, mas o nosso direcionamento não é o de fechar a porteira. Mas estamos aguardando os desdobramentos de Belo Horizonte", diz o presidente do PT local, Rogério de Freitas.

Em Aracaju, o PT e o PSDB buscam aliança para apoiar a reeleição do prefeito Edvaldo Nogueira (PC do B). "O PT aqui ainda não discutiu isso, foi o prefeito que fez um gesto em direção ao PSDB. Agora, a decisão de Belo Horizonte é específica. Para os demais casos, vale a decisão anterior de avaliar caso a caso", diz o presidente do PT de Sergipe, Marcio Macedo.

Na Paraíba, o PSDB e o DEM, os dois maiores adversários do governo Lula, apoiarão a candidata petista Polianna Feitosa (PT) à Prefeitura de Pombal (371 km de João Pessoa) e, em Maturéia (312 km de João Pessoa), o PT será vice dos tucanos.

Complexo

Em Pelotas, quarta maior cidade do Rio Grande do Sul, o candidato do PT, Fernando Marroni, poderá ter o apoio do PSDB, partido da governadora do Estado, Yeda Crusius. "A situação de Pelotas é complexa porque o Rio Grande do Sul é um Estado importante no qual o PT faz oposição ao governo do PSDB", disse Romênio Pereira.

A direção petista determinou por meio de resolução que analisará, prioritariamente, os pedidos de aliança com o PSDB nas cidades com mais de 200 mil eleitores. Como são poucos, se dedicará a todas às solicitações feitas, mesmo que pelos menores municípios do país.

Pereira disse que não há critérios objetivos para o veto ou a aprovação, mas afirmou que é bem mais fácil para o partido liberar alianças em cidades de pouco peso nacional.

No PSDB, a Executiva Nacional analisará as alianças em municípios com mais de 50 mil habitantes. "Em Belo Horizonte, ficou claro que a rejeição do PT foi ao nome do governador Aécio Neves, não ao PSDB", disse Rodrigo de Castro.

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